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FERNANDO RODRIGUES
Um gesto didático
BRASÍLIA - Se tudo começa e termina na política, não seria diferente com a tragédia do avião da TAM.
A evidência maior são as imagens
de Marco Aurélio Garcia apresentadas pela TV Globo -e amplamente
divulgadas na internet.
O assessor especial de Lula assistia a uma reportagem na TV apontando a existência de falha mecânica no avião acidentado. Em resumo,
as mortes não teriam sido (apenas)
em decorrência da desídia do governo. Marco Aurélio comemorou
com um gesto obsceno. Bateu a palma de uma mão estendida contra a
outra, fechada.
O petista encarnou ali toda a administração federal lulista. Era como se quisesse dizer: "A culpa não é
só nossa. Vocês dançaram".
Mas "vocês" quem? A maioria da
população que certamente enxerga
alguma culpa do governo? A mídia?
Todos os não-lulistas?
Aquele gesto de Marco Aurélio, a
rigor, é didático. Mostra a farsa das
declarações de pesar dos políticos
quando acontece uma tragédia. Em
público, fingem consternação. Os
de oposição vão até o local onde estão os mortos. Alguns choram. Encenam a solidariedade necessária.
Os governistas se fecham em seus
gabinetes. Procuram desculpas.
Uma coisa os une: a obsessão sobre
tirar proveito político de tudo.
Ao comemorar a possível dispersão de responsabilidades sobre o
acidente com o avião da TAM, Marco Aurélio nos coloca em contato
com a política em seu estado mais
puro. Não importa resolver o caos
no setor aéreo. O relevante é salvar
a própria pele. E comemorar depois
a desgraça dos adversários.
O petismo reviveu o funesto episódio protagonizado por Rubens
Ricupero, em 1994, quando o então
ministro da Fazenda cunhou a famosa frase: "Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura; o
que é ruim, esconde". Marco Aurélio, como Ricupero, não conseguiu
esconder. Melhor assim.
frodriguesbsb@uol.com.br
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