|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Terra, mar e ar
RIO DE JANEIRO - Se o leitor está a ponto de vir ao Rio para o Pan,
como atleta, cartola ou torcedor, e
tem alimentado uma típica paranóia sobre sua segurança, saiba pelo
menos de uma coisa: não há a menor possibilidade de o amigo sofrer
um atentado por terra, mar ou ar.
Desde o início dos jogos, e por toda a duração do Pan, a Aeronáutica
baniu as asas-delta e os parapentes
que decolavam das rampas da Pedra Bonita, em São Conrado, e coalhavam lindamente o céu sobre as
praias das zonas sul e oeste cariocas. Ficou também proibido saltar
de pára-quedas, pilotar ultraleves e
alugar helicópteros civis para passeios, mesmo que apenas para adejar ao redor do Cristo. (O bondinho
do Pão de Açúcar, por enquanto,
continua liberado.)
Por que tudo isso? Pela segurança. Mas segurança de quem? Algum
atleta brasileiro, hondurenho ou de
Trinidad e Tobago corre o risco de
um atentado vindo do céu?
A vigilância não se restringe à interdição do espaço aéreo sobre as
arenas. Na Lagoa, palco das competições de remo e canoagem, os pedalinhos em forma de cisne foram
estacionados na altura do Cantagalo e de lá não saem, para evitar que
um solerte terrorista se aproveite
da candura do veículo e, pedalando
mansamente, vá alvejar algum remador de Antígua e Barbuda.
No Parque Aquático Maria Lenk,
um repórter teve seu sanduíche de
salada de atum confiscado pela segurança. Na marina da Glória, o alvo foi um frasquinho de Lavolho. E,
no Complexo do Autódromo, um
pai teve de lamber o Danoninho de
sua filha para provar que aquilo não
era uma bomba química. Tal e qual
nos aeroportos.
Tudo isso, claro, são imposições
dos EUA. Graças às lambanças do
governo americano, seus pobres
atletas não têm sossego em lugar
nenhum e, com isso, o mundo inteiro é suspeito de odiá-los.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Um gesto didático Próximo Texto: Fernando Gabeira: Corações partidos Índice
|