São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 2000


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VINICIUS TORRES FREIRE

Dinheiro

SÃO PAULO - Não terá muito o que fazer, nem como, o próximo governo da cidade de São Paulo. Não que os anteriores tenham feito algo mais do que corrompê-la, no sentido urbanístico ou policial.
São Paulo é a chaga maior do desenvolvimentismo. O desenvolvimentismo, tão criticado ou elogiado sempre por motivos errados, foi uma receita para criar sociedades de consumo restritas, cercadas de miséria.
A indiferença pela humanidade, pelo bem-estar coletivo ou pela beleza, arrivismo, negocismo e mau gosto entranharam em São Paulo uma rede de monstruosidades viárias e urbanísticas para servir a ilha de consumidores. A crueldade brasileira fez o resto e colocou para germinar na periferia uma multidão de sem-nadas, sem esperança em especial. Muitos brotaram, os niilistas da miséria, e assaltam e matam, entre si em particular.
A violência é o tema e a fraude da maioria dos candidatos -até o suave e ora agoniado Alckmin enche a boca para mostrar "energia". Fraude não só porque o assunto, violência, é da alçada estadual. Mas porque a fúria e a miséria dos violentos vai tomar tanto tempo para ser resolvida como levou para ser gerada. O nosso horror de hoje é obra de décadas de incúria.
São Paulo tem dívidas demais. A administração da prefeitura tornou-se isso que se viu sob o mandato de Celso Pitta. São Paulo é um inchaço metastásico fora de controle. Tem uma massa à deriva, sem emprego, porque nem mais cidade industrial é. Pior, todos os candidatos, afora as bravatas revoltantes, falam em soluções administrativas. Mas São Paulo precisa de dinheiro, e dinheiro público não haverá. Assim não vai dar.
Quem vai trazer dinheiro? Qual será a cara econômica da cidade? São Paulo chegou à beira da morte por causa do dinheiro e de quem o detém. Vai ter de sair do buraco pelo mesmo caminho. Mas desta vez civilizado, por favor.


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