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VINICIUS TORRES FREIRE
Dinheiro
SÃO PAULO - Não terá muito o que fazer, nem como, o próximo governo
da cidade de São Paulo. Não que os
anteriores tenham feito algo mais do
que corrompê-la, no sentido urbanístico ou policial.
São Paulo é a chaga maior do desenvolvimentismo. O desenvolvimentismo, tão criticado ou elogiado sempre por motivos errados, foi uma receita para criar sociedades de consumo restritas, cercadas de miséria.
A indiferença pela humanidade,
pelo bem-estar coletivo ou pela beleza, arrivismo, negocismo e mau gosto
entranharam em São Paulo uma rede de monstruosidades viárias e urbanísticas para servir a ilha de consumidores. A crueldade brasileira fez o
resto e colocou para germinar na periferia uma multidão de sem-nadas,
sem esperança em especial. Muitos
brotaram, os niilistas da miséria, e
assaltam e matam, entre si em particular.
A violência é o tema e a fraude da
maioria dos candidatos -até o suave e ora agoniado Alckmin enche a
boca para mostrar "energia". Fraude
não só porque o assunto, violência, é
da alçada estadual. Mas porque a fúria e a miséria dos violentos vai tomar tanto tempo para ser resolvida
como levou para ser gerada. O nosso
horror de hoje é obra de décadas de
incúria.
São Paulo tem dívidas demais. A
administração da prefeitura tornou-se isso que se viu sob o mandato de
Celso Pitta. São Paulo é um inchaço
metastásico fora de controle. Tem
uma massa à deriva, sem emprego,
porque nem mais cidade industrial é.
Pior, todos os candidatos, afora as
bravatas revoltantes, falam em soluções administrativas. Mas São Paulo
precisa de dinheiro, e dinheiro público não haverá. Assim não vai dar.
Quem vai trazer dinheiro? Qual será a cara econômica da cidade? São
Paulo chegou à beira da morte por
causa do dinheiro e de quem o detém.
Vai ter de sair do buraco pelo mesmo
caminho. Mas desta vez civilizado,
por favor.
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