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FERNANDO RODRIGUES
A Nike e o tendão-de-aquiles
BRASÍLIA - A Nike demonstrou nos últimos dias algo já conhecido, mas
que nunca é demais relembrar: a falta de bom senso não é um defeito exclusivo dos poderes públicos. Abunda
também na iniciativa privada.
Conhecida pelos seus produtos esportivos -e pela imposição de um
calendário esdrúxulo de jogos para a
seleção brasileira de futebol-, a Nike mandou destruir cerca de 45 mil
pares de tênis falsificados com a sua
marca. Tudo dentro da lei.
Muita gente protestou. Por que, em
vez de destruir, não fez uma doação
para brasileiros carentes? A empresa
poderia até, legitimamente, mandar
raspar a marca do produto, como
forma de proteger sua imagem.
A Nike respondeu por meio de sua
assessoria de comunicação, em carta
publicada na Folha.
O argumento merece reprodução:
"A Nike autorizou a destruição dos
tênis falsificados com o objetivo principal de proteger os consumidores de
riscos à saúde".
Riscos à saúde? Isso mesmo.
É tão espetacular a explicação que
vale ler mais um trecho: "Os tênis falsificados podem vir a causar sérias lesões em áreas como tornozelo e tendão-de-aquiles, por exemplo, porque
na maioria das vezes sua fôrma não é
apropriada e as matérias-primas são
de baixa qualidade".
Tudo bem, a Nike tem todo o direito de preservar o mercado e mandar
destruir os tênis falsificados. A falsificação é crime. Deve ser combatida.
Mas a empresa poderia poupar o
distinto público de ouvir tamanha
baboseira, como essa da proteção da
saúde dos consumidores.
Antes que a Nike mande uma fita
de vídeo com estudos de alguma universidade norte-americana provando os riscos para os tendões-de-aquiles de brasileiros pobres e descalços
que usarem os tênis falsos, aviso que
não entendo nada do assunto. Falo
aqui apenas de bom senso.
Afinal, alguém acredita que andar
descalço pode fazer menos mal do
que usar tênis falsificados?
A Nike acredita.
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