São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

A Nike e o tendão-de-aquiles

BRASÍLIA - A Nike demonstrou nos últimos dias algo já conhecido, mas que nunca é demais relembrar: a falta de bom senso não é um defeito exclusivo dos poderes públicos. Abunda também na iniciativa privada.
Conhecida pelos seus produtos esportivos -e pela imposição de um calendário esdrúxulo de jogos para a seleção brasileira de futebol-, a Nike mandou destruir cerca de 45 mil pares de tênis falsificados com a sua marca. Tudo dentro da lei.
Muita gente protestou. Por que, em vez de destruir, não fez uma doação para brasileiros carentes? A empresa poderia até, legitimamente, mandar raspar a marca do produto, como forma de proteger sua imagem.
A Nike respondeu por meio de sua assessoria de comunicação, em carta publicada na Folha.
O argumento merece reprodução: "A Nike autorizou a destruição dos tênis falsificados com o objetivo principal de proteger os consumidores de riscos à saúde".
Riscos à saúde? Isso mesmo.
É tão espetacular a explicação que vale ler mais um trecho: "Os tênis falsificados podem vir a causar sérias lesões em áreas como tornozelo e tendão-de-aquiles, por exemplo, porque na maioria das vezes sua fôrma não é apropriada e as matérias-primas são de baixa qualidade".
Tudo bem, a Nike tem todo o direito de preservar o mercado e mandar destruir os tênis falsificados. A falsificação é crime. Deve ser combatida.
Mas a empresa poderia poupar o distinto público de ouvir tamanha baboseira, como essa da proteção da saúde dos consumidores.
Antes que a Nike mande uma fita de vídeo com estudos de alguma universidade norte-americana provando os riscos para os tendões-de-aquiles de brasileiros pobres e descalços que usarem os tênis falsos, aviso que não entendo nada do assunto. Falo aqui apenas de bom senso.
Afinal, alguém acredita que andar descalço pode fazer menos mal do que usar tênis falsificados?
A Nike acredita.


Texto Anterior: São Paulo - Vinícius Torres Freire: Dinheiro
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Quando o pior acontece
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.