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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lulismo no ar
SÃO PAULO - Em Pernambuco,
até o candidato ao governo pelo
PFL, Mendonça Filho, exibe imagens de Lula em seu programa de
TV. Na Bahia, os candidatos locais
se anunciam como membros do "time do Lula". Em São Paulo, Mercadante desfila na TV para lá e para cá
agarrado à barba do pai salvador.
Todos querem tirar uma lasquinha.
O lulismo, como se diz, está bombando. Mas não o PT. Fernando
Henrique resumiu bem: "O PT é o
Lula. E o Lula não é o PT", disse à
"Playboy" deste mês. É porque não
quer aceitar esse divórcio de fato
que Berzoini, investido de ânimo
vingativo, pode anunciar aos gritos,
como fez no sábado, num comício
com Lula, que a vitória será dedicada aos "companheiros atacados".
O gesto da véspera de desagravo
aos mensaleiros contrastou com a
omissão de Lula, que ontem em
Osasco escondeu João Paulo atrás
do palco em seu comício. É difícil
saber qual dos escárnios é pior: o de
quem fala ou o de quem cala.
O lulismo não deriva só do carisma do presidente ou das ações
anestésicas de seu governo contra a
miséria extrema. Mais do que isso,
o lulismo é resultado do esfacelamento do PT e da anarquização fisiológica do sistema político e partidário. O mensalão é ao mesmo tempo sua causa e sua conseqüência.
Lula sobreviveu à base podre que
ele mesmo gestou, descolou do PT e
saiu da crise fortalecido. Mas está
solto no ar. Em caso de vitória, o
que o espera depois de outubro?
O PT, se tanto, deve conquistar
três Estados bem periféricos: Acre,
Sergipe e Piauí. E a bancada do partido, além de encolher, deve ser
mais lulista do que petista: é nos
grotões do Nordeste que o PT ainda
tem chance de reduzir suas perdas.
Como então governar? Reforma
política? Constituinte? Nem Lula
acredita. Seu vice, vale lembrar, é
do PRB. No final, tudo conspira para o casamento à moda antiga do lulismo com o PMDB. Saem o PL de
Valdemar, o PTB de Jefferson e o
PP de Janene. Entra o PMDB de Jader, Newtão e Renan. Afinal, se hoje
no ministério cabe um Hélio Costa,
por que não quatro ou cinco?
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