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PLÍNIO FRAGA
Samba da saúva política
RIO DE JANEIRO - Eis que a saúva foi geneticamente modificada.
Agora, ou o Brasil reforma o sistema político, ou o sistema político
acaba com o Brasil.
Andam pelas páginas de livros e
jornais panegíricos sobre a imperiosa necessidade de mudanças nas
leis para que o sistema de representação democrático seja purgado,
melhorado e modernizado.
Parecia propaganda das Organizações Tabajara, mas estava em
uma das gazetas de ontem, a estragar o domingo, um artigo de prócer
lulista a revelar: "as disputas eleitorais amesquinham e sectarizam as
inteligências" -antes achava-se
que eram elas a essência da democracia- ; "o modelo político é um
entrave ao correto funcionamento
das instituições e ao próprio desenvolvimento nacional" -estava quase a perguntar em que gabinete de
Brasília despacha esse cara, o tal
modelo político, ou qual agência de
celebridade tem ele sob contrato. E
o prócer continuava, citando "as
forças do atraso", alertando que "os
conflitos podem degenerar em confrontos, esgarçando o tecido social"
e propondo como solução a fidelidade partidária e o financiamento
público da campanha eleitoral.
Concluía: "Alega-se que o financiamento público exclusivo custaria
caro ao país. Diga-se apenas que serão escandalosamente maiores os
custos morais e financeiros do financiamento privado".
Calma aí: eles fazem o caixa dois,
ganham propinas de intermediação
de contratos públicos e de interesses privados, compram votos no
Congresso, compram Land Rovers,
mulheres e charutos cubanos e propõem como solução para isso a colocação de mais dinheiro público à
disposição dos impolutos?
Em resposta à verve de Luiz Dulci, só restou o samba do Paulinho da
Viola: "Depois dessa, fui em busca
do meu antidepressivo e afundei no
sofá com meus jornais".
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