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CLÓVIS ROSSI
Os "grampos" e as bananas
SÃO PAULO - São tantas as anomalias que, no Brasil, passam por
normais -e durante tanto tempo-
que ninguém mais, ou muito pouca
gente, ergue as sobrancelhas ante o
escândalo, qualquer escândalo.
O mais recente de uma safra fartíssima é a possibilidade de que ministros do Supremo Tribunal Federal estejam sendo vítimas de escutas telefônicas. A revista "Veja" alçou o tema à capa de seu número
em circulação. A Folha registrou-o,
com alguns novos detalhes, no domingo, mesmo assim sem o destaque que uma situação como essa
deveria merecer.
Não houve, até agora, uma repercussão, nos meios políticos, jurídicos, sociais, acadêmicos, digna da
enormidade do escândalo.
Aí, cabem várias possibilidades,
todas tremendas:
1 - Mentiram os ministros do
STF que reconheceram para a revista seu temor de estarem sendo
"grampeados".
2 - Os juizes do STF são chegados
a delírios conspiratórios.
3 - (A hipótese mais provável) - O
ambiente na capital da República
tornou-se de tal forma degradado
que mesmo os ministros da mais alta corte de Justiça da pátria entendem ser possível que haja "grampeamento" de seus telefones, ainda
que não tenham provas.
Já houve, aliás, uma varredura,
por empresa especializada contratada pela corte que apontou indícios de "grampo", mas seu resultado foi rejeitado pela Polícia Federal, que terminou por indiciar o dono da empresa por falsa comunicação de crime.
Um enredo tão rocambolesco só
é possível em repúblicas bananeiras. Em que outro tipo de república
um ministro do STF (Marco Aurélio Mello) se sentiria compelido a
cuidados extraordinários para falar
ao telefone sobre a herança de seu
pai? Se é assim com ele, imagine cidadãos menos protegidos, mas cujas conversas possam interessar ou
ao governo ou a criminosos.
crossi@uol.com.br
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