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ELIANE CANTANHÊDE
Lula engole o PT
BRASÍLIA - OK, o PT "continua
forte", como diz Lula, mas é preciso
definir o que é ser "forte". O PMDB,
por exemplo, é fortíssimo. Tem o
maior número de governadores,
prefeitos, senadores, deputados e
vereadores. É isso que o PT quer?
Virar um PMDB? Sua verdadeira
força sempre foi outra. E faz falta.
Os fins justificam os meios. Antes, valia tudo pela causa. Hoje, vale
tudo pelo poder. Ao jogar fora os escrúpulos de consciência (como faziam ministros civis na ditadura)
para garantir o apoio do PMDB a
Dilma Rousseff, Lula pode ter não
apenas humilhado e rachado o PT
no Senado mas conseguido o inverso do que queria.
Senão, vejamos: Lula agarrou-se
a Collor, a Renan, a Jucá, desprezou
o passado, sacrificou a bandeira
mais cara do PT, dividiu a bancada,
enlouqueceu o líder Mercadante,
empurrou Marina Silva para a campanha presidencial e levou Flávio
Arns a gritar que tinha "vergonha"
do partido. E salvou Sarney.
Isso enfraquece a alma do PT,
mas não fortalece a aliança com o
PMDB para 2010. O apoio a Dilma
não depende de Sarney estar ou não
na presidência do Senado, depende
da força e da capacidade de vitória
que ela demonstrar.
E qual foi o resultado de toda a
operação de Lula pró Sarney? Desde que lançada ao vento, a candidatura Dilma nunca esteve tão fragilizada, cheia de interrogações e pressionada. O que seria uma polarização Dilma-Serra, como operava Lula, virou uma campanha sortida,
com Marina empunhando a bandeira do desenvolvimento sustentável e Ciro Gomes com os mesmos
índices de Dilma nas pesquisas.
A esta altura, o PMDB está menos
preocupado com Sarney e mais com
o que acontece, ou vai acontecer,
com as chances de Dilma. Ou seja:
Lula e o PT pagam um alto preço
por tirar o pescoço de Sarney da
guilhotina, mas podem ter afastado,
em vez de ter atraído, o apoio do
"forte" PMDB. Que fica com Dilma
se for para ganhar e pula fora se for
para perder. Simples assim.
elianec@uol.com.br
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