|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
UNIÃO X ESTADOS
A história da democratização brasileira quase se confunde com as lutas
pela descentralização. Sob a liderança dos governadores, iniciou-se no
final dos anos 70 uma operação de
desmonte da centralização tributária
e administrativa do período militar.
O auge desse processo foi a Constituição promulgada em 1988.
Desde então, o cenário político brasileiro abriga um conflito que continua em aberto. De um lado, a democratização prosseguiu, assim como
as pressões por mais recursos e o
fortalecimento político de governadores e prefeitos. Mas, ao mesmo
tempo, teve início um esforço de reconquista de poder por parte do governo federal. Retomada que se desdobrou em propostas de revisão
constitucional e reformas do Estado
que, aliás, continuam sobre a mesa.
Os Estados desde então recorrem
como podem às "suas" bancadas no
Congresso para barganhar favores
locais. Contornaram os limites ao
seu endividamento. Deflagraram a
guerra fiscal, por meio da qual disputam empresas que invistam e criem
empregos (e votos).
O governo federal, por sua vez, não
consegue articular no Congresso a
sustentação necessária para reformar o Estado e a federação. Deslanchou então uma ofensiva que vai dos
fundos "de emergência" -que suspendem transferências constitucionais a Estados e municípios- à interferência do BNDES na privatização, passando pela intervenção em
bancos estaduais e pela chamada Lei
Kandir. São tentativas de disciplinar
governos e reverter a descentralização fiscal da redemocratização.
Há um objetivo maior, nacional, em
jogo: a reforma do Estado, o ajuste
fiscal, sem o que a estabilização será
arruinada e a própria descentralização afetada. Mas não há um projeto
político capaz de evitar a fragmentação fiscal produzida pela predominância de interesses regionais.
As tensões entre o federalismo democratizante e o reformismo centralizador apenas cresceram com o tempo, beirando a "luta livre", sem regras e sem vencedores. Mas há perdedores: os cidadãos que assistem
perplexos às disputas fratricidas que
empolgam a elite política brasileira.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|