São Paulo, domingo, 21 de setembro de 1997.



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Tucanos de joelhos

CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Cresce entre os tucanos a sensação de que foram traídos pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Há até quem expresse o desejo de que ele deixe o partido e ingresse no PFL, o que é sugestão implícita de que FHC governa com o PFL e não com seu próprio partido.
Bobagem. Não sei se o presidente gostaria ou não de governar com o PFL, mas, ainda que o quisesse, não poderia fazê-lo.
Por uma simples razão: o PFL não tem planos de governo, a não ser, claro, o de agarrar-se firmemente ao governo, seja qual for.
É só rememorar o comportamento do partido em três planos de estabilização (Cruzado, Collor e Real). Eram diferentes, na essência e na implementação. Não obstante, o PFL aportou os votos necessários a aprovar todos e cada um. Mas não foi nem cheirado na elaboração de qualquer deles.
O núcleo duro do governo FHC não é pefelê. Nem PSDB. É formado pelos amigos e/ou incondicionais do presidente: Sérgio Motta, Paulo Renato, Pedro Malan, José Serra (na primeira metade), Gustavo Franco, o chanceler Luiz Felipe Lampreia, Clóvis Carvalho, Eduardo Jorge.
Repete-se a dose até no segundo escalão (Aspásia Camargo, José Gregori, José Roberto Mendonça de Barros). Se alguns ou muitos deles são tucanos, é coincidência. Não devem ao partido as suas indicações.
Como o presidente tampouco deve ao partido (a qualquer deles) a sua eleição, feita em cima do Real e ponto.
O PSDB é o espelho invertido do PT, na relação de cada qual com seus governantes. O PT inferniza a vida deles, cobrando mais "petismo", ainda que nem sempre esteja definido o que é isso. O PSDB, ao contrário, não cobra porcaria nenhuma, porque tem apenas vagas lembranças do que deve ser o seu ideário.
Por isso, se agacha diante do presidente, comportando-se como se fosse um PFL com verniz acadêmico e sotaque francês.






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