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Tucanos de joelhos
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Cresce entre os tucanos a
sensação de que foram traídos pelo
presidente Fernando Henrique Cardoso. Há até quem expresse o desejo de
que ele deixe o partido e ingresse no
PFL, o que é sugestão implícita de que
FHC governa com o PFL e não com
seu próprio partido.
Bobagem. Não sei se o presidente
gostaria ou não de governar com o
PFL, mas, ainda que o quisesse, não
poderia fazê-lo.
Por uma simples razão: o PFL não
tem planos de governo, a não ser, claro, o de agarrar-se firmemente ao governo, seja qual for.
É só rememorar o comportamento
do partido em três planos de estabilização (Cruzado, Collor e Real). Eram
diferentes, na essência e na implementação. Não obstante, o PFL aportou os
votos necessários a aprovar todos e cada um. Mas não foi nem cheirado na
elaboração de qualquer deles.
O núcleo duro do governo FHC não é
pefelê. Nem PSDB. É formado pelos
amigos e/ou incondicionais do presidente: Sérgio Motta, Paulo Renato,
Pedro Malan, José Serra (na primeira
metade), Gustavo Franco, o chanceler
Luiz Felipe Lampreia, Clóvis Carvalho, Eduardo Jorge.
Repete-se a dose até no segundo escalão (Aspásia Camargo, José Gregori,
José Roberto Mendonça de Barros). Se
alguns ou muitos deles são tucanos, é
coincidência. Não devem ao partido
as suas indicações.
Como o presidente tampouco deve
ao partido (a qualquer deles) a sua
eleição, feita em cima do Real e ponto.
O PSDB é o espelho invertido do PT,
na relação de cada qual com seus governantes. O PT inferniza a vida deles,
cobrando mais "petismo", ainda que
nem sempre esteja definido o que é isso. O PSDB, ao contrário, não cobra
porcaria nenhuma, porque tem apenas vagas lembranças do que deve ser
o seu ideário.
Por isso, se agacha diante do presidente, comportando-se como se fosse
um PFL com verniz acadêmico e sotaque francês.
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