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VINICIUS TORRES FREIRE
Um governo de esquerda possível
SÃO PAULO - Um governo de esquerda é possível, mais possível do que
imagina o reacionarismo brasileiro,
menos do que imagina a estranha e
algo chocante euforia otimista dos
militantes do PT.
O governo do PT precisa imediatamente conquistar condições de governar. Precisa adotar de pronto medidas de conservadorismo financeiro a
fim de tentar debelar a crise herdada
dos anos FHC (tentar, pois pouco pode fazer sobre a crise de crédito externo). Precisa chegar a um acordo com
suas esquerdas e o excesso inicial de
reivindicações. O início do governo já
será conturbado pela inexperiência
federal do PT e pela crise econômica.
Agregar a isso tumulto político e social é receita de fracasso.
Mas o governo do PT pode começar
desde já com cara de esquerda. É possível tomar medidas como a regularização da propriedade em favelas e
criar um programa de construção de
casas e de melhoria da indecência do
saneamento, o que de resto cria empregos baratos para o povo mais desvalido e melhora sua saúde de maneira permanente. Tal programa,
bem pensado e administrado, agregando inclusive apoio da iniciativa
privada, pode se tornar uma espécie
de Plano Real do PT.
Se quiser tentar fazer um governo
histórico, o PT tem de encampar e
dar cunho social às reformas malparadas no governo FHC: da Previdência, das leis do trabalho e dos impostos (aos poucos). Aí podem ser resolvidas injustiças revoltantes na redistribuição de fundos públicos, pode ser
barateada a criação de empregos e
pode se fazer a economia crescer com
eficácia. Daí também podem aparecer recursos para direcionar o crescimento da economia e das ações sociais para as regiões mais pobres:
Nordeste e grandes periferias.
Nada disso é impossível de fazer e
daria sentido histórico a um governo
que assume em grave crise e que tem
um mandato muito curto. Mas desconversa populista em relação ao
conservadorismo financeiro e nas reformas sociais pode matar na origem
as aspirações de mudança.
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