LUIZ CAVERSAN
Rio de Janeiro - No debate sobre liberdade de expressão que ocorreu esta semana no teatro do Leblon, aqui no Rio, chamou a atenção a predominância de jovens. A grande maioria dos presentes, diria que três quartos das cerca de 200 pessoas presentes ao encontro, estavam na casa dos 20 anos, um pouco mais, um pouco menos.
Ou seja, nenhum deles viveu o período negro do regime de força, militar, que dominou o país por duas décadas.
Aqueles jovens não sentiram na pele, como as demais pessoas que lá estavam para protestar contra a prisão de artistas e restrições a shows por causa do conteúdo das letras das músicas, a força da censura de fato.
Mas compareceram e demonstravam estar preocupados com a liberdade de dizer o que se pensa, seja em canções, filmes, livros etc.
Diante daquele público, digamos assim, mais descontraído, não houve como deixar de recordar das reuniões tensas, amedrontadas, quase secretas no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo na década de 70. O motivo era o mesmo, defender a liberdade de expressão, mas a barra naquela época era pesadíssima: gente sendo presa, torturada, morta. Tudo era censurado, quase tudo era proibido.
Uma vez, fui à USP para uma sessão clandestina do filme "Couraçado Potenkin", clássico do cinema revolucionário, chatíssimo aliás, mas cuja proibição tornava-o obrigatório.
Mal começou a sessão, não me lembro se na Faculdade de História ou na FAU, a "repressão", como se dizia na época, desligou a luz do prédio.
Foi um pânico só.
Fazendo trocadilho barato, era realmente uma época de trevas.
Por essas e por outras foi gratificante constatar que houve reação rápida aos atos de censura recentes. E que essa resposta foi dada predominantemente pelos jovens, cujo comportamento é equivocadamente associado à alienação e ao descaso com o que esteja fora do seu universo de referências imediatas. Eles pensam, sim, e agem politicamente também.



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