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CARLOS HEITOR CONY
O ovo da serpente
RIO DE JANEIRO - Quando a
classe política, como um todo, chega a um consenso operacional, a experiência ensina que nada será feito
para concretizar o circunstancial
consenso. Ele servirá apenas para
declarações bem intencionadas e
para a formação da seguinte estratégia: se todos estamos de acordo
neste assunto, por que não deixá-lo
para mais tarde?
A necessidade de uma reforma
política é um consenso nascido nos
últimos tempos. Só perde em antigüidade para o consenso da reforma agrária. Todos estão de acordo
que o mal da nossa vida pública são
os vícios da operação política em si,
que permite a existência de dezenas
de partidos que se amontoam na
Justiça Eleitoral em época de eleição criando as alianças mais berrantes e inacreditáveis.
Justamente porque todos estão
de acordo sobre a necessidade da
mudança das regras político-partidárias, o assunto nunca entra na
agenda formal dos partidos e do
Congresso. O raciocínio dos interessados é o seguinte: se todos estamos de acordo, não há necessidade
de se fazer a reforma, deixamos tudo como está, para termos pelo menos um assunto sobre o qual estamos todos do mesmo lado.
Pode-se deduzir daí que a classe
política é estruturalmente cínica e
hipócrita. Ela sabe que a reforma
política é o meio mais eficiente para
acabar com a corrupção, contra a
qual todos se erguem indignados e
moralistas. Mas como cobrir os custos das campanhas sem as fartas
doações dos lobbies que se formam
a cada eleição? Neste particular não
há inocentes nem vestais.
Aos poucos estão vindo à tona as
doações, os benfeitores e os beneficiários. Não escapa ninguém, as diferenças são de escala, uns mais outros menos. E é aí justamente que
se aninha e se choca o ovo da serpente da corrupção.
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