São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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RECUPERAÇÃO DUVIDOSA

A maioria das Bolsas de Valores está apresentando forte queda nas cotações das ações, pelo terceiro ano consecutivo.
O estouro da bolha especulativa das ações de tecnologia em março de 2000 foi seguido por uma crise global de confiança nos mercados de capitais, desencadeada por fraudes contábeis e conflitos de interesses envolvendo analistas financeiros e empresas de auditoria. Diante disso, o Índice Dow Jones da Bolsa de Nova York desvalorizou-se 14,6% nos últimos 12 meses; o Nasdaq, 30,6%.
O valor de mercado das ações das empresas norte-americanas reduziu-se US$ 7,9 trilhões entre dezembro de 1999 e setembro de 2002. As famílias norte-americanas vão assumindo grande parte dessas perdas patrimoniais. O estoque de ações no balanço das famílias contraiu-se US$ 5 trilhões no mesmo período. Processo semelhante ocorreu na Europa e no Japão. A Bovespa não fugiu à regra. Acumula desvalorização de 16%.
Alguns bancos e investidores vislumbram a possibilidade de uma recuperação nos preços das ações no próximo ano, por avaliarem que os lucros corporativos tenderão a apresentar recuperação expressiva. Todavia, parece haver razões para uma avaliação mais conservadora.
É verdade que os lucros das companhias norte-americanas, após o pagamento de impostos, cresceram 2,1% no terceiro trimestre. Haviam se contraído 10% durante o ano de 2001. Esse aumento na lucratividade das corporações norte-americanas esteve mais associado a processos de reestruturação e corte de gastos do que a uma retomada robusta do crescimento econômico. O investimento privado continuou dependente das construções imobiliárias.
Na União Européia (UE), o investimento caiu nos últimos sete trimestres. Ademais, a deflação de preços passou a rondar os países europeus. O deflator implícito do PIB da UE acusou queda de 0,2% no terceiro trimestre. Esses dados indicam que a retomada do crescimento econômico mundial e das Bolsas de Valores ainda é assunto muito discutível.


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