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CLÓVIS ROSSI
Conspiração de papel
CARACAS - O comportamento da mídia venezuelana na crise é um escândalo talvez sem paralelo na nem sempre nobre história da imprensa na
América Latina.
Os cinco principais canais privados
mais nove dos dez grandes jornais
abandonaram, quase totalmente,
qualquer propósito informativo para
se transformarem em aríetes (aliás,
os principais) da tentativa de derrubar o presidente Hugo Chávez.
"A mídia se transformou em partido político", constata Marco Aurélio
Garcia, o emissário especial do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu futuro assessor diplomático.
Para dar uma pálida idéia, cito
duas supostas notícias, tiradas da capa de ontem de "El Nacional", um
dos dois grandes.
O matutino publica uma série de
fotos das filas formadas nos postos de
gasolina e até no Registro Eleitoral
(pelo recadastramento). O texto-legenda termina assim: "Houve quem
comparasse o fenômeno das filas intermináveis com o cotidiano da vida
em Cuba".
Chávez é acusado pela oposição de
pretender implantar na Venezuela
um regime igual ao de Fidel Castro
em Cuba. Mas usar as filas para insinuar a comparação é de uma má-fé
inacreditável. Em Cuba, as filas se
dão por falta de bens. Na Caracas de
agora, por uma paralisação politicamente motivada dos altos quadros
gerenciais da estatal petrolífera.
O segundo caso é, na capa, a informação de que "o Executivo reconheceu que, devido à situação de paralisação do setor agroindustrial, se observa desabastecimento de itens essenciais". Parece uma vitória dos grevistas anti-Chávez, não é?
Lá no fundo das páginas internas, a
informação correta: o governo não
reconheceu nada. Acusou a principal
central empresarial (a Fedecamaras)
de provocar o desabastecimento.
"Fazem desaparecer alguns produtos
em pontos estratégicos", disse Efrén
Andrades, o ministro de Abastecimento e Terras.
O pior é que a visão da mídia é a
que contamina a informação que
chega ao exterior.
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