São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

A fraqueza do homem forte

BRASÍLIA - O futuro ministro da Ca sa Civil, José Dirceu, negociou durante semanas com o PMDB a entrada desse partido no governo Lula.
Anteontem, Dirceu e o presidente do PMDB, deputado Michel Temer, anunciaram ter chegado a um acordo. Não revelaram em público o teor do acerto, mas assessores de ambos se ocuparam de vazar tudo para a imprensa com riqueza de detalhes.
Caberiam ao PMDB dois ministérios no governo Lula: Minas e Energia e Integração Nacional. Em troca, os peemedebistas anunciariam apoio oficial dos seus 74 deputados e 20 senadores a favor da administração petista em 2003.
Dirceu fez uma ressalva pública. A palavra final seria do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Uma formalidade necessária num regime presidencialista.
Ontem, a novidade. Lula anunciou um nome do próprio PT, Dilma Rousseff, para o Ministério das Minas e Energia. Implodiu o acordo preliminar entre Dirceu e Temer.
Apesar da ressalva pública feita por Dirceu sobre a palavra final ser de Lula, o futuro chefe da Casa Civil sai enfraquecido do episódio.
Não que Dirceu não mereça mais o título de homem forte do governo Lula. Mas ficou evidente que certas negociações serão inúteis com ele ou com qualquer outro integrante da administração lulista.
Ninguém mais se esforçará durante dias ou semanas para acertar alguma estratégia política com José Dirceu. Seria um trabalho sem serventia. O futuro ministro da Casa Civil, como se vê, sempre corre o risco de ser desautorizado por Lula.
O episódio também revela um estilo próprio de Lula para negociar certos nacos de seu governo. Hoje, no auge da popularidade, talvez calcule ser possível atrair os peemedebistas no varejo do Congresso, um a um. Pode ser. Mas não custa lembrar que FHC deu três ministérios ao PMDB e nunca teve mais do que 70% dos votos desse partido, talvez o mais ambivalente de todos na política nacional.



Texto Anterior: Caracas - Clóvis Rossi: Conspiração de papel
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Os romances de Paulo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.