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CARLOS HEITOR CONY
Os romances de Paulo
RIO DE JANEIRO - Nova editora na praça, a W11 está relançando dois
dos três romances que Paulo Francis
escreveu. Como jornalista, ele teve
prestígio entre as cultas gentes e uma
popularidade rara entre os intelectuais. É evidente que o jornalista é
efêmero como o Brasil é gigante pela
própria natureza.
Com o tempo, é natural que o profissional da mídia, por mais brilhante que tenha sido, fique datado, encapsulado num período que só interessará aos pesquisadores de determinada época ou de determinado assunto.
Paulo foi sem dúvida um dos mais
notáveis no ofício, mas deixou romances que não estouraram na proporção de sua influência na vida cultural do país.
São romances que podem ser considerados de idéias, e não de ação. Bem
escritos, como tudo o que saía de sua
pena. Bem verdade que sua linguagem nem sempre é de ficção, mas de
ensaio ou de artigo. Autores consagrados da literatura de todos os tempos também tiveram uma linguagem
híbrida, que expressava um "mix" de
ficção e opinião.
Para dar dois exemplos famosos:
Flaubert sempre cultivou a linguagem do romance, Balzac nem sempre. Pelo contrário, tem muito de ensaísta, de editor de opinião de sua
época. No entanto Balzac e Flaubert
são dois gigantes da novelística universal.
Paulo foi um intelectual conscientemente polêmico. Pagou um preço por
isso, pois seus romances não tiveram
na época a repercussão merecida.
Não foi levado a sério. Seus três romances foram considerados uma espécie de extravagância, de "scherzos"
de um jornalista bem-dotado.
Com a reedição de dois deles, Paulo
estará mais uma vez entre nós. A fatia de vida que retratou teve nele a
profundidade, o som e a fúria de um
dos espectadores mais lúcidos e competentes de nossa comédia humana.
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