São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Os romances de Paulo

RIO DE JANEIRO - Nova editora na praça, a W11 está relançando dois dos três romances que Paulo Francis escreveu. Como jornalista, ele teve prestígio entre as cultas gentes e uma popularidade rara entre os intelectuais. É evidente que o jornalista é efêmero como o Brasil é gigante pela própria natureza.
Com o tempo, é natural que o profissional da mídia, por mais brilhante que tenha sido, fique datado, encapsulado num período que só interessará aos pesquisadores de determinada época ou de determinado assunto.
Paulo foi sem dúvida um dos mais notáveis no ofício, mas deixou romances que não estouraram na proporção de sua influência na vida cultural do país.
São romances que podem ser considerados de idéias, e não de ação. Bem escritos, como tudo o que saía de sua pena. Bem verdade que sua linguagem nem sempre é de ficção, mas de ensaio ou de artigo. Autores consagrados da literatura de todos os tempos também tiveram uma linguagem híbrida, que expressava um "mix" de ficção e opinião.
Para dar dois exemplos famosos: Flaubert sempre cultivou a linguagem do romance, Balzac nem sempre. Pelo contrário, tem muito de ensaísta, de editor de opinião de sua época. No entanto Balzac e Flaubert são dois gigantes da novelística universal.
Paulo foi um intelectual conscientemente polêmico. Pagou um preço por isso, pois seus romances não tiveram na época a repercussão merecida. Não foi levado a sério. Seus três romances foram considerados uma espécie de extravagância, de "scherzos" de um jornalista bem-dotado.
Com a reedição de dois deles, Paulo estará mais uma vez entre nós. A fatia de vida que retratou teve nele a profundidade, o som e a fúria de um dos espectadores mais lúcidos e competentes de nossa comédia humana.


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