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CLÓVIS ROSSI
Política é só apetite, dos piores
SÃO PAULO - Faça o seguinte teste: procure, no noticiário que envolve Câmara dos Deputados e Senado, um aroma, muito leve que seja,
de interesse público nos temas e
posições em debate. Vai achar?
Nunca. Aliás, suspeito que tampouco vai encontrar se o teste se estender às Assembléias Legislativas e às
Câmara Municipais do país.
Nem é novidade. Faz anos, muitos anos, que o mundo político gira
em torno de si mesmo, de seus interesses eleitorais, paroquiais e, muitas vezes, escusos. O problema é
que, de hora em hora, piora.
Basta ver os casos mais recentes
que mobilizam senadores e deputados, a eleição das Mesas das duas
Casas do Congresso e o aumento do
número de vereadores.
Neste último exemplo, então, é a
desfaçatez levada ao cubo. O interesse público determinaria não o
aumento do número de vereadores,
mas a diminuição do número de
municípios -e por extensão do número de prefeitos e vereadores-,
porque uma parcela importante deles não fica de pé com arrecadação
própria. Depende de repasses federais e/ou estaduais. Mas não deixa
de manter uma Prefeitura e uma
Câmara Municipal, com toda a inevitável "asponeria".
No caso das presidências, não há
sinal de qualquer dos candidatos à
moralização ou a fazer do Legislativo um poder de fato e não um apêndice que carimba as iniciativas do
Executivo.
Tudo gira em torno do apetite pelo poder -qualquer naco de poder- do PMDB ou do PT ou de ambos e de seus eventuais aliados, que,
amanhã ou depois, serão adversários, não pelo interesse público,
mas por esse apetite insaciável.
Uma vez, muitos anos atrás, escrevi que o preconceito contra os
políticos era primo-irmão do absurdo e inaceitável preconceito
contra negros, judeus e nordestinos. Hoje sou obrigado a pedir desculpas a negros, nordestinos e judeus pela comparação.
crossi@uol.com.br
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