São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Política é só apetite, dos piores

SÃO PAULO - Faça o seguinte teste: procure, no noticiário que envolve Câmara dos Deputados e Senado, um aroma, muito leve que seja, de interesse público nos temas e posições em debate. Vai achar?
Nunca. Aliás, suspeito que tampouco vai encontrar se o teste se estender às Assembléias Legislativas e às Câmara Municipais do país.
Nem é novidade. Faz anos, muitos anos, que o mundo político gira em torno de si mesmo, de seus interesses eleitorais, paroquiais e, muitas vezes, escusos. O problema é que, de hora em hora, piora.
Basta ver os casos mais recentes que mobilizam senadores e deputados, a eleição das Mesas das duas Casas do Congresso e o aumento do número de vereadores.
Neste último exemplo, então, é a desfaçatez levada ao cubo. O interesse público determinaria não o aumento do número de vereadores, mas a diminuição do número de municípios -e por extensão do número de prefeitos e vereadores-, porque uma parcela importante deles não fica de pé com arrecadação própria. Depende de repasses federais e/ou estaduais. Mas não deixa de manter uma Prefeitura e uma Câmara Municipal, com toda a inevitável "asponeria".
No caso das presidências, não há sinal de qualquer dos candidatos à moralização ou a fazer do Legislativo um poder de fato e não um apêndice que carimba as iniciativas do Executivo.
Tudo gira em torno do apetite pelo poder -qualquer naco de poder- do PMDB ou do PT ou de ambos e de seus eventuais aliados, que, amanhã ou depois, serão adversários, não pelo interesse público, mas por esse apetite insaciável.
Uma vez, muitos anos atrás, escrevi que o preconceito contra os políticos era primo-irmão do absurdo e inaceitável preconceito contra negros, judeus e nordestinos. Hoje sou obrigado a pedir desculpas a negros, nordestinos e judeus pela comparação.

crossi@uol.com.br


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