|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Longo alcance
BRASÍLIA - Com o presidente dos
EUA levando sapatadas e o de Cuba
virando o centro das atenções num
encontro da América Latina e do
Caribe, na Bahia, o mundo está de
pernas para o ar. É nesse clima que
o casal Nicolas Sarkozy-Carla Bruni
está chegando para selar uma
"aliança estratégica" Brasil-França.
A estrela mais esfuziante do pacote, com perdão de dona Bruni, será o anúncio da produção de quatro
submarinos convencionais nacionais e um de propulsão nuclear
-que não é uma brincadeirinha de
almirantes, mas um avanço importante para a tecnologia, a indústria
e o desenvolvimento do país.
Desde os anos 1970, o Brasil já investiu cerca de US$ 1,5 bi (ou US$
5,6 bi, atualizados) no programa
nuclear da Marinha. O protocolo
com a França, que fecha um ciclo e
abre outro, prevê a compra de equipamentos e tecnologia para a construção e montagem de um estaleiro
especializado e uma base especial
para fabricar os submarinos. O Brasil já detém a tecnologia do reator
nuclear. Mas falta muito dinheiro e
tempo, no mínimo 12 anos, para entregar o projeto pronto e acabado.
Mas, assim como a sapatada entra para a história como o triste fim
de Bush e o início de uma nova era
num mundo em crise, o protocolo
com a França e a "Estratégia Nacional de Defesa", lançada na última
quinta-feira, marcam um novo patamar nas pretensões brasileiras.
Não se poderia esperar cronogramas e cifras do documento, porque
não se trata de um plano a ser executado, mas de uma doutrina, um
conjunto de diretrizes para tentar
adequar a defesa brasileira ao projeto político e econômico de liderança regional e de emergente internacional. Também não se pode
esperar que Sarkozy chegue na segunda e, na terça, o Brasil amanheça outro. Mas esses movimentos
têm uma direção e fazem sentido
para quem tenta olhar em volta e
enxergar bem adiante. Aliás, é a isso
se dá o nome de estratégia.
elianec@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Política é só apetite, dos piores Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O algodão em Melbourne Índice
|