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ELIANE CANTANHÊDE
Pagodão
BRASÍLIA - Nem Zeca Pagodinho pode salvar o humor de alguns ministros e tornar apetitosa a reforma ministerial, que demora demais e não
deve servir para muito mais do que
meter o PMDB no governo.
Depois do pagode de terça à noite e
da sucessão de conversas de Lula ontem, parece que agora a coisa vai. Para o bem geral da nação, dos demitidos, dos jornalistas e dos leitores, que
não aguentam mais esse blablablá.
Está acertado que: 1) o petista Patrus Ananias, de Minas, será encarregado de dar ordem à bagunça na casa social; 2) o PSB troca um político
do Rio (Roberto Amaral) por outro
de Pernambuco (Eduardo Campos)
numa área essencialmente técnica,
Ciência e Tecnologia; 3) Miro Teixeira tinha tudo pronto para ficar, mas
dançou, e seus amigos procuram
uma "saída honrosa".
Os primeiros serão os últimos: os
peemedebistas. Tudo isso, de reforma
assim, reforma assado, se arrasta há
um ano com o objetivo de dar cargos
ao PMDB e comprar seus votos no
Congresso. Mas Lula só baterá o
martelo no quinhão do partido amanhã, no último minuto, fechando as
malas para embarcar rumo à Índia.
Manchete da Folha em 9 de janeiro
de 2003 (2003 mesmo!): "PT usa cargos para atrair ala do PMDB". Manchete possível de qualquer jornal no
sábado: "PT usa ministérios para
atrair o PMDB inteiro".
Há duas diferenças entre as manchetes do início do ano passado e as
do início deste. Uma é que o PT não
está usando apenas alguns daqueles
20 mil cargos federais de segundo e
terceiro escalões disponíveis para governos empregarem aliados; está
dando ministérios. Outra é que o
PMDB não está mais prometendo
um apoio pontual, mas dando em
troca uma aliança quase incondicional.
Como a gente ia dizendo, essa reforma está demorando demais, muito mais do que merecia. Um ano inteirinho de discussões para isso? Só
falta agora Lula embarcar para a Índia sem anunciar tudo. Aí, companheiro, nem um Chico Buarque e dez
Zeca Pagodinho para dar jeito.
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