São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Pagodão

BRASÍLIA - Nem Zeca Pagodinho pode salvar o humor de alguns ministros e tornar apetitosa a reforma ministerial, que demora demais e não deve servir para muito mais do que meter o PMDB no governo.
Depois do pagode de terça à noite e da sucessão de conversas de Lula ontem, parece que agora a coisa vai. Para o bem geral da nação, dos demitidos, dos jornalistas e dos leitores, que não aguentam mais esse blablablá.
Está acertado que: 1) o petista Patrus Ananias, de Minas, será encarregado de dar ordem à bagunça na casa social; 2) o PSB troca um político do Rio (Roberto Amaral) por outro de Pernambuco (Eduardo Campos) numa área essencialmente técnica, Ciência e Tecnologia; 3) Miro Teixeira tinha tudo pronto para ficar, mas dançou, e seus amigos procuram uma "saída honrosa".
Os primeiros serão os últimos: os peemedebistas. Tudo isso, de reforma assim, reforma assado, se arrasta há um ano com o objetivo de dar cargos ao PMDB e comprar seus votos no Congresso. Mas Lula só baterá o martelo no quinhão do partido amanhã, no último minuto, fechando as malas para embarcar rumo à Índia.
Manchete da Folha em 9 de janeiro de 2003 (2003 mesmo!): "PT usa cargos para atrair ala do PMDB". Manchete possível de qualquer jornal no sábado: "PT usa ministérios para atrair o PMDB inteiro".
Há duas diferenças entre as manchetes do início do ano passado e as do início deste. Uma é que o PT não está usando apenas alguns daqueles 20 mil cargos federais de segundo e terceiro escalões disponíveis para governos empregarem aliados; está dando ministérios. Outra é que o PMDB não está mais prometendo um apoio pontual, mas dando em troca uma aliança quase incondicional.
Como a gente ia dizendo, essa reforma está demorando demais, muito mais do que merecia. Um ano inteirinho de discussões para isso? Só falta agora Lula embarcar para a Índia sem anunciar tudo. Aí, companheiro, nem um Chico Buarque e dez Zeca Pagodinho para dar jeito.


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