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MÁRIO MAGALHÃES
"La revolución permanente'
RIO DE JANEIRO - Mundo afora,
poucos souberam. Dos que souberam, poucos deram bola. Dos que
deram bola, raros relacionaram as
palavras de Hugo Chávez em mais
uma posse à espada com que ele esgrimiu na cúpula do Mercosul.
O que se passou: ao assumir, duas
semanas atrás, para governar até
2013, o presidente da Venezuela
contou que um ministro o alertou
sobre sua filiação trotskista. Chávez
disse que respondeu: "Bem, e qual é
o problema? Eu também sou trotskista. Sou da linha de Trotski, a revolução permanente".
Para não deixar dúvidas, insistiu:
"O poder constituinte [...] é a revolução mesma. É a revolução permanente, como disse Trotski".
"A Revolução Permanente" é
uma brochura lançada pelo comunista russo Leon Trotski em 1930.
Na teoria, dizia que o poder socialista só se mantém ao se expandir
para outros países; isolado, cai. Na
prática, sustentava que a Revolução
Russa fracassaria se o comunismo
não vingasse além fronteiras.
No governo, seu inimigo Stálin
pregava as chances do "socialismo
em um só país". Como se vê, uma
discussão com ares empoeirados,
como os que cobrem o livro nos sebos. Não é o que pensa Chávez.
O venezuelano associa o sucesso
da sua revolução bolivariana à implantação de políticas similares na
América do Sul. A síntese da sua
ação no Rio foi o empenho para empurrar à esquerda a vizinhança.
Chávez fustigou Fernando Henrique Cardoso, atacou a mídia brasileira e defendeu Lula de vaias. Na
sua lógica, não crê interferir em
questões de uma nação soberana.
Para um partidário da "revolução
permanente", o Brasil é extensão
das contendas travadas na Venezuela. Um dos problemas de Chávez
é que Lula rejeita as rupturas que o
amigo promove em casa.
mariomagalhaes@folhasp.com.br
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