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O grande segredo
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Ao contrário dos
evangelhos, onde tudo era ""naquele
tempo", a história que vou contar é do
nosso tempo mesmo. Um jornalista
soube que o prefeito de uma cidade do
interior conseguira fazer um hospital
cinco estrelas, com centro cirúrgico
que o próprio alcaide, ao inaugurá-lo,
declarou que ""era digno do Primeiro
Mundo".
Em tempo: quando se usa essa expressão, dá-se a entender que no Primeiro Mundo ninguém morre, ninguém tem dor de barriga ou de alma.
Ledo e ivo engano! Mas vamos lá.
O fato é que o hospital era decente
mesmo, aliás, era decentíssimo. Sabendo que havia um glorioso quisto
primeiro-mundista encravado numa
das regiões mais miseráveis do Brasil,
o jornalista decidiu assuntar. Tomou
avião, ônibus, burro e canoa, chegou
ao paraíso terrestre hospitalar.
E, por Júpiter!, encontrou aquilo que
antigamente os jornais, para evitar a
repetição da palavra hospital, chamavam de ""nosocômio". O centro cirúrgico podia fazer transplantes de cabeça,
tronco e membros de qualquer mortal,
embora os mortais da região nem precisassem disso.
Entrevistou o prefeito. Onde conseguira recursos para uma obra daquelas? Ajuda do Ministério da Saúde?
Patrocínio de um fundo de pensão?
Nada disso. O prefeito disse que apenas não roubara nem deixara ninguém roubar. Ele descobrira que todos
os serviços terceirizados da administração municipal pagavam de 15% a
25% de comissão aos intermediários.
Canalizou esses recursos de volta ao
orçamento de que dispunha. Deu para
fazer o hospital e ainda sobrou algum.
Conto esta história porque ela explica muita coisa que acontece num país
que vendeu estatais para cobrir déficits da Previdência, da saúde e da educação. E tudo continuou como antes.
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