São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

O preço da fatura

RIO DE JANEIRO - Espantosa a idéia do ministro da Previdência. Nomeado por Lula para pagar parte da fatura do PMDB e esquecer as perdas e danos do ministro anterior, o novo titular descobriu ao mesmo tempo a pólvora, reinventou a roda e salvou a lavoura. Para cobrir o atávico déficit do INSS, sua privilegiada cabeça conseguiu mais uma vez colocar o ovo de Colombo em pé.
Aumentando as contribuições que todos pagamos (patrões e empregados), teríamos o pretendido equilíbrio entre receita e despesa. Faça-se justiça ao ministro: ele incluiu empregados e patrões no aumento fiscal. Todos seriam punidos, iguais que são perante a lei.
Na semana passada, tentei iniciar uma história universal do cinismo, mas, plagiando aquele soneto de Camões, descobri que, para tão longo ofício, é curto o espaço
Desde a sua fundação, o PT berrava pelas ruas e pelos caminhos (depois de Camões, uma alusão a Maurice Ravel) que o déficit era provocado pela enorme dívida que grandes empresas públicas e privadas mantinham com o instituto. Volta e meia, quando algum empresário, por isso ou aquilo, cai em desgraça junto aos poderosos do governo, encena-se a sua prisão, como aconteceu agora com o presidente da Vasp, detido algumas horas, mas logo solto pela Justiça.
Evidente que o empresário em questão, com ou sem motivo justo, contrariou alguém lá em cima. Isso ocorre todas as vezes que um grupo desagrada à nomenclatura de plantão. Foi o que aconteceu com a antiga Rede Tupi de televisão, que se esborrachou há tempos, ao ser cobrada a sua dívida para com a Previdência.
Cálculos confiáveis garantem que 55% das empresas (e, entre elas, algumas gigantes do mercado) devem alguma coisa ao INSS, recolhendo as contribuições de seus empregados e não as repassando aos cofres públicos. Nada acontece com elas enquanto agradam de alguma forma ao governo. Em resumo: um tipo de chantagem fiscal e política.


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