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CLÓVIS ROSSI
Os heróis de Lula
SÃO PAULO - Primeiro, o governo
Luiz Inácio Lula da Silva mexeu na
TR (a Taxa Referencial de juros), de
tal forma que os rendimentos da
poupança serão reduzidos.
Alguém aí ouviu algum outro alguém gritar "calote", "tunga", "quebra de contrato" ou algo parecido?
Ou só silêncio?
Depois, constatou-se que, graças
à mesma mágica besta do governo,
também o FGTS será afetado, passando a ter rendimento inferior ao
da inflação (ou seja, perda de renda,
em bom português), dependendo
do nível da taxa de juros.
De novo, gritos enfurecidos de
"calote", "tunga", "quebra de contrato"? Nadica de nada, salvo uma
reclamaçãozinha chocha do ministro do Trabalho, Luiz Marinho,
mais por não ter sido ouvido do que
pela tunga. Reclamação que, de resto, só comprova uma vez mais que,
no governo do Partido dos Trabalhadores, trabalhador não é ouvido
nem cheirado, por mais que o presidente da República ainda se considere torneiro mecânico, profissão
que não exerce há pelo menos um
quarto de século.
Agora, experimente você mencionar "calote" (não necessariamente para defendê-lo) em relação
à dívida pública. Cai-lhe o mundo
em cima, por baixo, por baixo.
Ficamos então assim: "redutor"
na TR, afetando o pequeno investidor e o assalariado, pode. Já o rendimento do grande investidor, que
detém os papéis do governo, é absolutamente intocável, sagrado.
Foi assim sempre, mas se tornou
quase vício, verdadeiro dogma religioso no governo Lula, que fez a opção preferencial pelo mercado financeiro, ao qual dedica anualmente algo em torno de 7% ou 8% do
PIB.
Dia virá em que Lula chamará de
"heróis" o pessoal do mercado, como fez anteontem com os usineiros, no mesmo dia em que fiscais do
trabalho encontravam trabalhadores da cana atuando em condições
"degradantes".
crossi@uol.com.br
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