São Paulo, Segunda-feira, 22 de Março de 1999
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O PT pensa em si próprio

FERNANDO RODRIGUES
Brasília - Afinal, plagiando Freud, o que quer o PT?
Itamar Franco se entrincheirou em Minas Gerais e prepara sua candidatura a presidente. Leonel Brizola presta um serviço ao PFL e prega a renúncia de FHC. E o PT? O PT está quieto.
Há muito de tática e estratégia no silêncio petista. O PT está pensando no médio e no longo prazo.
Maior partido oposicionista do país, o PT tem a poderosa quarta maior bancada da Câmara. Governa três Estados. É, de longe, o partido com a militância mais articulada dentro do oceano de legendas do país.
Parte da classe média vota no PT, principalmente nos grandes centros. A última coisa que a direção petista deseja agora é ser tachada de oposição sem proposta. Por isso o silêncio.
"Nós achamos que a crise não está resolvida. O modelo econômico do governo causará uma recessão gravíssima e haverá um repique de crise mais adiante", diz o presidente do PT, o deputado José Dirceu.
E se a crise não for profunda a ponto de desestabilizar o governo?
Fala José Dirceu: "Tudo bem. Médio prazo pode ser três anos. No curto prazo, derrubar o Fernando Henrique é colocar no poder o ACM ou o Marco Maciel, e isso nós não queremos. O PT já fez o movimento por eleições diretas para outros assumirem. Agora, queremos o poder para nós".
Tudo bem. Mas conquistar o poder para fazer o quê? O problema do PT é não oxigenar suas propostas. Está longe de trilhar o caminho da centro-esquerda européia, como a Terceira Via, do inglês Tony Blair, e o Novo Centro, do alemão Gerhard Schroeder.
Essa encruzilhada ideológica também é uma razão do silêncio petista. No mundo globalizado, não há muita alternativa ao que tenta fazer hoje o governo FHC. O PT sabe disso.
A vantagem comparativa que o PT tem com relação a outros partidos -ser uma agremiação com muito menos corrupção do que a média- se esvai quando o debate é sobre governar.
É por isso que os petistas apostam tudo nos três Estados comandados por governadores do partido. É a única chance de o PT emplacar em 2002.


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