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Inflação e indexação
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - A inflação tem um
mérito para as autoridades do governo e economistas oficiais: dá a oportunidade de se preocuparem com aquilo
que eles chamam de ""pobres".
É comum um desses sacerdotes do
mercado neoliberal, dentro ou fora do
governo, afirmar que a inflação é um
imposto que onera o pobre, que o pobre é o mais prejudicado com a inflação, que o pobre sofre isso, sofre aquilo. Donde se conclui que a inflação é o
único tema que traz à cabeça dos responsáveis pela nossa economia a existência dos pobres.
Evidente que a inflação não pode ser
justificada. Mas ela existe em decorrência da falência de uma política
econômica errada. A indexação dos
salários, apesar de ser outro erro técnico, é o bandeide que bem ou mal
equilibra as coisas.
Daí o lugar-comum que o governo e
economistas oficiais criaram para
combater os salários, acusando-os de
serem a alavanca da inflação. Aumento de juros para pagar especuladores, aumento das tarifas públicas
para o Estado continuar financiando
viagens e mordomias, nada disso é inflacionário, deve ser indexado, que o
dólar está caro.
Salário não. É a besta negra da economia. O ideal seria o trabalho escravo, gente despreparada que não tem
nada a oferecer senão a mão-de-obra
desqualificada. Pagar salário a essa
gente já é um desperdício, um contra-senso econômico.
Quanto mais indexá-lo ao dólar!
Abóbora, carne-seca, farinha de mandioca, mandacaru e certos répteis nascidos no mato ou em cortiços não dependem da balança cambial. A piedosa preocupação das autoridades com
os pobres só se manifesta em tempos
de inflação.
O sistema implantado por FHC simplificou as coisas. O governo está sempre certo. A sociedade está sempre errada. Os pobres devem dar sua cota de
sacrifício para que o Brasil continue
sendo um cassino confiável.
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