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ELIANE CANTANHÊDE
Questão de afinidade
BRASÍLIA - Depois de dois encontros com Bush num único mês
(março) e de desfraldar internacionalmente a bandeira do álcool combustível, Lula foi à Venezuela e
manteve discussões muito menos
amenas e amigáveis com Chávez e
com Evo Morales.
No confronto com o venezuelano, que usa a força do petróleo para
armar o país, montar milícias e mobilizar um exército partidário (não
por acaso vermelho...), Lula aparentemente ganhou todas.
Conseguiu incluir na declaração
dos países sul-americanos uma boa
referência ao biocombustível (como interessava ao Brasil) e ao mesmo tempo excluir referências à
"Opep do gás" (proposta de Chávez
e Morales) e ao Banco do Sul (visto
com simpatia pelos dois e pelo argentino Kirchner).
E o que ganhou Chávez? A resposta brasileira vem com ironia: ele
conseguiu uma vitória retórica ao
derrubar o nome do novo grupo
sul-americano, que era Casa, sugerido pelo Brasil, e trocá-lo por Unasur ou Unasud -em português,
Unasul. Vitória? Há controvérsias.
Já no confronto com o boliviano,
que não foi apenas no contexto geral, mas cara a cara, Lula reagiu um
tanto mal-humorado à pressão para
que a Petrobras venda baratinho
suas refinarias no país.
Planalto e Itamaraty tratavam
Morales e a nova Bolívia, nacionalizante e antiimperialista (anti-Brasil?), de pai culpado para filho sofrido. Aparentemente, descobriram
que o filho está fora de controle,
exigindo mais do que deveria. Lula,
portanto, avisou a ele que "paciência tem limite".
Com biocombustível de um lado,
petróleo e gás de outro, o fato é que
Lula está demonstrando no segundo mandato que tem mais assunto e
mais afinidade com os EUA do que
com a Venezuela vermelha e a Bolívia incerta. Está se distanciando.
Trata-se de um movimento importante, com repercussões políticas e
práticas já e de longo prazo.
elianec@uol.com.br
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