São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Mais um

BRASÍLIA - Um líder sindical no Brasil, um genuíno índio na Bolívia, um coronel nacionalista e metido a esquerdista na Venezuela e, agora, um ex-bispo no Paraguai. Sem contar as duas mulheres, uma no Chile e outra na Argentina.
Não são movimentos nem escolhas isolados. Ao contrário, parecem combinar perfeitamente com o artigo do professor Luiz Carlos Bresser-Pereira ontem na Folha, em que ele registra o "fracasso das reformas e da macroeconomia neoliberais em promover o desenvolvimento econômico dos países periféricos que as aceitaram".
Não foi só o neoliberalismo que fracassou na América do Sul. As elites falharam durante séculos em promover o desenvolvimento, a independência real e, principalmente, a igualdade social. Nos anos 2000, buscam-se alternativas.
A liderança política do presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, foi formatada, na teoria, com a Teologia da Libertação e, na prática, nos anos de convivência com a miséria no segundo país mais pobre da América do Sul, só melhor que a Bolívia de Evo Morales.
O ditador Alfredo Stroessner foi derrubado em 1989, depois de 35 anos no poder, mas deixou um rastro de desgoverno que sobrevive até hoje por meio do Partido Colorado, que já vai tarde, muito tarde.
A herança é uma economia quebrada, excessiva dependência de Itaipu, uma corrupção avassaladora e a prática do contrabando a céu aberto. É o que Lugo precisa exorcizar.
Em entrevista, o ex-bispo se classificou como um meio-termo entre Lula e Hugo Chávez, indicando que tende a equilibrar um espírito conciliador com a necessidade de tensão, provocação e até de transgressão contra velhos hábitos, para governar um país que precisa de reformas urgentes, principalmente na cultura política.
Seus desafios são imensos, mas um consolo Lugo tem: ele não está sozinho. É apenas mais um.


elianec@uol.com.br

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