RIO DE JANEIRO - Recorte quase ilegível que encontrei dentro de uma história da literatura norte-americana que pertencia a meu pai.
Um telegrama vindo de Nova York, publicado com destaque na primeira página de um jornal carioca que não existe mais. Não há anotação da data nem da origem. Tampouco identifiquei a agência que o enviou. Transcrevo o recorte tal como o pai o guardou e eu o encontrei, por acaso.
"Nova York, 20 (U.T.B.) - O conhecido autor Sinclair Lewis, criador de "Babbit" e laureado do Prêmio Nobel de Literatura do ano passado (1930), foi esbofeteado hoje pelo escritor Theodor Dreiser, durante uma recepção em homenagem a um autor russo. Lewis iniciou o discurso dizendo não lhe ser agradável falar "perante um homem que havia copiado milhares de palavras dum livro de minha esposa e na presença de dois amáveis críticos que lamentaram publicamente eu ter ganho o Prêmio Nobel."
"Mal tinha pronunciado estas palavras e Dreiser se levantou e ressoou a bofetada. Sinclair ficou rubro (sic) e a cena teria degenerado em pugilato se não fosse a intervenção de amigos que os separaram. Há uns três anos, a senhora Lewis acusou Dreiser de ter plagiado o seu livro "A Nova Rússia"."
Dois monstros sagrados da literatura numa saia justa que, em outros tempos, teria terminado num duelo mortal. Sinclair foi, se não estou enganado, o primeiro escritor norte-americano a ganhar o Nobel -e muita gente criticou a academia sueca, achando que havia outros que mereciam a láurea, entre os quais o próprio Dreiser, que era mais popular não apenas nos Estados Unidos mas em todo o mundo.
Descendente de alemães, com quase dois metros de altura, autor de "An American Tragedy", ele viveu uma tragédia americana.


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