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CLÓVIS ROSSI
O grito dos armários
SÃO PAULO - Seria fácil, até tentador, esculhambar o governo e o presidente da República a partir das informações da revista "Veja" a respeito
do caso Marka.
Afinal, hoje é popular bater em
FHC, sem mencionar o fato de que a
indignação que pinga em quantidades industriais na minha caixa de
correspondência eletrônica torna razoável supor que, se eu escrevesse que
foi o gado da fazenda de FHC em Buritis que contaminou com a aftosa o
rebanho gaúcho, todo mundo acreditaria, e choveriam aplausos.
Mas cuidado! O texto de "Veja"
não fecha. Se o banqueiro Salvatore
Cacciola tinha informações privilegiadas e ainda por cima um esquema
de grampo no Banco Central, como
explicar que ele tenha sido surpreendido pela desvalorização do real? A
única explicação da revista, assim
mesmo de passagem, é a de que não
houve tempo para avisá-lo. Dada a
sofisticação do esquema denunciado,
chega a ser risível.
O presidente e o governo são, então,
inocentes? Aí é que mora o problema.
Não dá para inocentar o governo
nem quando as informações que supostamente o incriminam não fecham.
O socorro aos bancos Marka e FonteCindam foi uma barbaridade intolerável, tenha ou não havido chantagem. Não dá para acreditar que, se
um banquinho merreca como o Marka quebrasse, haveria o famoso "risco
sistêmico", que arrastaria todo o sistema financeiro tupiniquim, conforme a desculpa dada à época.
É difícil estabelecer o que é pior:
render-se a uma chantagem, como
diz a "Veja", ou promover a queima
de US$ 1,6 bilhão por absoluta incompetência ou por ideologia (a
crença de que não ofender o sistema
financeiro é a pomada maravilha
que cura todos os problemas).
Em qualquer caso, fica provado que
esqueletos nos armários nunca param de gritar.
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