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ELIANE CANTANHÊDE
Não acaba nunca
BRASÍLIA - Está na cara que: 1) O aumento de tarifa de energia não é só por uns meses, mas veio para
ficar e amargar o meu, o seu, o nosso
bolsinho eternamente. Basta ler a entrevista do diretor-geral da Agência
Nacional do Petróleo, David
Zylbersztajn, na Folha de domingo.
2) Em compensação, duvido que
Fernando Henrique Cardoso tenha
coragem de mandar cortar mesmo a
luz da casa alheia (muito menos da
fábrica alheia) durante três dias no
primeiro mês e seis dias no segundo.
3) E o Congresso vai mexer no plano de racionamento, defendendo os
interesses das empresas. O governador Tasso Jereissati (tucano do Ceará) já abriu a boca para dizer que a
indústria vai se lascar. O deputado
José Carlos Aleluia (pefelista da Bahia) até elogia o plano, mas sem
aquela de impedir contratos de ligação de luz para novas empresas.
Soma daqui, diminui dali, temos o
seguinte cenário, ainda às escuras
(ou seria ainda às claras?): o governo
tira o mais drástico, que é o corte de
luz, o Congresso acaba com uma das
ameaças a investimentos, que é o veto de linhas para novas empresas, e...
Sobra todo o resto do plano: a conta! Ou seja, os 50% entre 200 kW e
500 kW por mês e os 200% acima disso. Para o cidadão de classe média
em diante pagar em 2001, 2002, 2003.
Como tudo no Brasil, o que é para
ser provisório acaba virando permanente. O melhor exemplo é a CPMF.
Era IPMF, o imposto provisório. Virou CPMF, a contribuição provisória.
Foi ficando, ficando e ficou. A alíquota aumentou para 0,38%, mas o "P"
continuou sendo de "provisório",
porque ninguém teve coragem de admitir que era de "permanente". Todo
mundo viu, mas fingiu não ver. E assim a gente vai levando.
É até engraçado chegar em casa e
encontrar a família virando o forno
elétrico contra a parede, pregando
cartazes de "apague a luz" em cada
interruptor e selecionando que roupa
é para passar e que roupa não é.
Mas não vai ser nada engraçado receber a conta. Muito menos olhar para ela e concluir: é para sempre!
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