São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2001

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ELIANE CANTANHÊDE

Não acaba nunca

BRASÍLIA - Está na cara que: 1) O aumento de tarifa de energia não é só por uns meses, mas veio para ficar e amargar o meu, o seu, o nosso bolsinho eternamente. Basta ler a entrevista do diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, David Zylbersztajn, na Folha de domingo.
2) Em compensação, duvido que Fernando Henrique Cardoso tenha coragem de mandar cortar mesmo a luz da casa alheia (muito menos da fábrica alheia) durante três dias no primeiro mês e seis dias no segundo.
3) E o Congresso vai mexer no plano de racionamento, defendendo os interesses das empresas. O governador Tasso Jereissati (tucano do Ceará) já abriu a boca para dizer que a indústria vai se lascar. O deputado José Carlos Aleluia (pefelista da Bahia) até elogia o plano, mas sem aquela de impedir contratos de ligação de luz para novas empresas.
Soma daqui, diminui dali, temos o seguinte cenário, ainda às escuras (ou seria ainda às claras?): o governo tira o mais drástico, que é o corte de luz, o Congresso acaba com uma das ameaças a investimentos, que é o veto de linhas para novas empresas, e...
Sobra todo o resto do plano: a conta! Ou seja, os 50% entre 200 kW e 500 kW por mês e os 200% acima disso. Para o cidadão de classe média em diante pagar em 2001, 2002, 2003.
Como tudo no Brasil, o que é para ser provisório acaba virando permanente. O melhor exemplo é a CPMF. Era IPMF, o imposto provisório. Virou CPMF, a contribuição provisória. Foi ficando, ficando e ficou. A alíquota aumentou para 0,38%, mas o "P" continuou sendo de "provisório", porque ninguém teve coragem de admitir que era de "permanente". Todo mundo viu, mas fingiu não ver. E assim a gente vai levando.
É até engraçado chegar em casa e encontrar a família virando o forno elétrico contra a parede, pregando cartazes de "apague a luz" em cada interruptor e selecionando que roupa é para passar e que roupa não é.
Mas não vai ser nada engraçado receber a conta. Muito menos olhar para ela e concluir: é para sempre!



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