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TENDÊNCIAS/DEBATES
Energia: a estratégia errada
ISRAEL KLABIN
É de consciência geral que a atual
crise energética no Brasil seria desnecessária caso as autoridades do setor
elétrico tivessem implementado, em
tempo útil, estratégias de produção,
transporte e distribuição de energia,
uma vez que a oferta de recursos energéticos limpos é plena.
Não existe dúvida de que o potencial
disponível no Brasil, em termos de
energia renovável hidráulica, de biomassa e outras fontes de "energia limpa" é um dos maiores do planeta. A opção por formas de aproveitamento de
combustíveis fósseis como solução para
o problema de escassez é oposta ao bom
senso e a uma visão correta de futuro.
O Brasil, que deveria aspirar à posição
de liderança mundial no desenvolvimento de energias limpas, tais como a
hidráulica, eólica, a solar e a biomassa,
decidiu-se por investir em termoelétricas. Pior, a Aneel autorizou, entre outras, a construção de uma usina de 1.377
MW em Sepetiba, portanto ao lado da
cidade do Rio de Janeiro -tendo como
cenário o remanescente da mata atlântica que será destruído pela chuva ácida-, com base em carvão mineral importado da Colômbia.
Pior ainda, o coordenador encarregado das soluções para o contingenciamento da demanda -oriundo da escassez de energia provocada pelo próprio governo- declarou que as restrições burocráticas ambientais deverão
ser reduzidas. Caso as restrições a serem
abolidas sejam aquelas que impedem a
execução de usinas hidroelétricas ou de
biomassa, estará o governo no caminho
certo. No caso contrário -qual seja, o
incentivo ao uso de combustíveis fósseis-, estará o governo dramaticamente errado. Mais uma vez.
Na estratégia para superar a crise de
energia, tudo indica que caminhamos a
passos largos na contramão da história.
Os prejuízos que isso ocasionará às próximas gerações e os reflexos que a utilização de combustíveis fósseis produzirá
formulam orientações inconcebíveis e
inaceitáveis.
Neste momento o Brasil resolve assumir modelos ultrapassados, negativos e científica e eticamente inadmissíveis
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No planeta, 78% da matriz energética
tem como fonte combustíveis fósseis.
Essa é a tragédia que os países desenvolvidos produziram para a Terra e seus
habitantes. Os limites da capacidade de
emissão de CO2 do planeta já foram, há
muito, ultrapassados e, seja com o Tratado de Kyoto ou sem ele, os capitais e
recursos afluirão proximamente à procura de energias renováveis e biomassa
como solução para o modelo energético
do século 21 e isso beneficiará enormemente o Brasil.
Neste momento, em que as decisões
fundamentais sobre o futuro do planeta
estão sendo tomadas, inclusive pelos
países desenvolvidos, é que o Brasil resolve assumir modelos ultrapassados,
negativos e que científica e eticamente
passaram a ser inadmissíveis.
Se não for por outro motivo, que estude o governo, pelo menos como um
aprendizado necessário, os vetores que
influirão no futuro dos nossos filhos e
netos. Tal futuro será condicionado, necessariamente, por sistemas de energia
limpa e não poluente.
No terreno das consequências econômicas o futuro próximo passa, inevitavelmente, pela necessidade de que o
nosso projeto de desenvolvimento promova, com rapidez, a estratégia de sua
meta energética, baseada no potencial
de energias limpas que temos e que,
com isso, se candidate aos recursos financeiros de compensação de emissões
(Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), que deverão ir para quem tiver capacidade e visão para isso.
O grande beneficiário da crise ambiental pela qual passa o planeta Terra
poderá ser o Brasil, caso o governo opte
pela estratégia certa de estímulo e implementação de uma matriz energética
limpa e baseada em recursos renováveis.
Israel Klabin, 74, engenheiro, pós-graduado pelo Instituto de Ciências Políticas (França), é presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável e do conselho de administração das Indústrias Klabin de Papel e Celulose. Foi
prefeito do Rio de Janeiro (1979-80).
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