São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2001

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Energia: a estratégia errada

ISRAEL KLABIN

É de consciência geral que a atual crise energética no Brasil seria desnecessária caso as autoridades do setor elétrico tivessem implementado, em tempo útil, estratégias de produção, transporte e distribuição de energia, uma vez que a oferta de recursos energéticos limpos é plena.
Não existe dúvida de que o potencial disponível no Brasil, em termos de energia renovável hidráulica, de biomassa e outras fontes de "energia limpa" é um dos maiores do planeta. A opção por formas de aproveitamento de combustíveis fósseis como solução para o problema de escassez é oposta ao bom senso e a uma visão correta de futuro.
O Brasil, que deveria aspirar à posição de liderança mundial no desenvolvimento de energias limpas, tais como a hidráulica, eólica, a solar e a biomassa, decidiu-se por investir em termoelétricas. Pior, a Aneel autorizou, entre outras, a construção de uma usina de 1.377 MW em Sepetiba, portanto ao lado da cidade do Rio de Janeiro -tendo como cenário o remanescente da mata atlântica que será destruído pela chuva ácida-, com base em carvão mineral importado da Colômbia.
Pior ainda, o coordenador encarregado das soluções para o contingenciamento da demanda -oriundo da escassez de energia provocada pelo próprio governo- declarou que as restrições burocráticas ambientais deverão ser reduzidas. Caso as restrições a serem abolidas sejam aquelas que impedem a execução de usinas hidroelétricas ou de biomassa, estará o governo no caminho certo. No caso contrário -qual seja, o incentivo ao uso de combustíveis fósseis-, estará o governo dramaticamente errado. Mais uma vez.
Na estratégia para superar a crise de energia, tudo indica que caminhamos a passos largos na contramão da história. Os prejuízos que isso ocasionará às próximas gerações e os reflexos que a utilização de combustíveis fósseis produzirá formulam orientações inconcebíveis e inaceitáveis.


Neste momento o Brasil resolve assumir modelos ultrapassados, negativos e científica e eticamente inadmissíveis
No planeta, 78% da matriz energética tem como fonte combustíveis fósseis. Essa é a tragédia que os países desenvolvidos produziram para a Terra e seus habitantes. Os limites da capacidade de emissão de CO2 do planeta já foram, há muito, ultrapassados e, seja com o Tratado de Kyoto ou sem ele, os capitais e recursos afluirão proximamente à procura de energias renováveis e biomassa como solução para o modelo energético do século 21 e isso beneficiará enormemente o Brasil.
Neste momento, em que as decisões fundamentais sobre o futuro do planeta estão sendo tomadas, inclusive pelos países desenvolvidos, é que o Brasil resolve assumir modelos ultrapassados, negativos e que científica e eticamente passaram a ser inadmissíveis.
Se não for por outro motivo, que estude o governo, pelo menos como um aprendizado necessário, os vetores que influirão no futuro dos nossos filhos e netos. Tal futuro será condicionado, necessariamente, por sistemas de energia limpa e não poluente.
No terreno das consequências econômicas o futuro próximo passa, inevitavelmente, pela necessidade de que o nosso projeto de desenvolvimento promova, com rapidez, a estratégia de sua meta energética, baseada no potencial de energias limpas que temos e que, com isso, se candidate aos recursos financeiros de compensação de emissões (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), que deverão ir para quem tiver capacidade e visão para isso.
O grande beneficiário da crise ambiental pela qual passa o planeta Terra poderá ser o Brasil, caso o governo opte pela estratégia certa de estímulo e implementação de uma matriz energética limpa e baseada em recursos renováveis.


Israel Klabin, 74, engenheiro, pós-graduado pelo Instituto de Ciências Políticas (França), é presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável e do conselho de administração das Indústrias Klabin de Papel e Celulose. Foi prefeito do Rio de Janeiro (1979-80).



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