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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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CLÓVIS ROSSI

O preço da covardia

SÃO PAULO - É muito difícil entender a racionalidade por trás da decisão do Banco Central de manter as taxas de juros no insuportável patamar em que estão.
Espero que não seja verdadeira a hipótese de que o BC resolveu dar uma de machão e demonstrar que não se curva a pressões, um raciocínio posto a circular desde o fim de semana por agentes de mercado (sempre eles) e que fica em algum ponto do caminho entre a indigência e a mistificação.
Todo banco central do planeta, inclusive o norte-americano, o Fed, sofre pressões. Só os mistificadores argumentam que há BCs totalmente independentes, que agem como se fossem instituições de outra galáxia.
O BC brasileiro não teria razão nenhuma para provar que está acima de qualquer pressão. Não se trata de ser macho, mas de ser competente. E o vice-presidente da República, José Alencar, já pôs em dúvida essa competência ao dizer outro dia que manter os juros como estão é jogar pelo ralo R$ 80 bilhões.
Tomara que a razão verdadeira para não mexer nos juros tenha sido excesso de cautela. É condenável, nas presentes circunstâncias, mas não é um completo absurdo.
De todo modo, é difícil escapar da constatação de que, mais uma vez, como vem sendo a norma desde que o novo governo tomou posse, o medo venceu a esperança.
Medo de que, exatamente, é difícil dizer. O presidente do BC sabe que a inflação é influenciada por três componentes -dólar, preços administrados e preços livres-, só o último dos quais pode ser de fato domado, eventualmente, pelos juros altos.
Sacrificar o já anêmico crescimento em nome de uma eventual influência sobre um pedaço da inflação é de uma covardia inominável.
Não por acaso, o desemprego subiu, em abril, pelo quarto mês consecutivo, ou seja, por todos os meses do governo Lula. Se ousadia tem preço, covardia também tem.


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