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VALDO CRUZ
Desculpas, só desculpas
BRASÍLIA - Pelo raciocínio do vice-presidente José Alencar, faltaram coragem e competência ontem ao Banco Central quando decidiu manter as
taxas de juros nas alturas.
Mas, ao subir o tom de suas críticas
-as mais contundentes até agora, o
que surpreendeu o Planalto-, José
Alencar acabou contribuindo para
que ele fosse derrotado na sua cruzada contra os juros altos.
Afinal, o que mais se ouvia ontem
no governo era que críticas fazem
parte do jogo. Mas elas teriam saído
do aceitável e tomado um ar de campanha. Soaria como rendição reduzir
os juros debaixo de tanto pau.
E não foram as da mídia e de empresários que mais incomodaram.
Foram as de gente do próprio governo, como José Alencar em discurso
feito em Belo Horizonte.
Irritaram particularmente Antonio
Palocci (Fazenda) e Henrique Meirelles. Eles se sentiram convidados a
"voltar para casa" caso não tivessem
coragem de defender o país.
O fato, porém, é que o fogo cruzado,
principalmente o amigo, deu ao Banco Central um motivo a mais para fazer exatamente o que planejava
-deixar tudo como está, seguir o caminho conservador. Mais uma semelhança com o seu antecessor.
Palocci já havia dito a Lula, antes
mesmo da reunião do Comitê de Política Monetária, que ainda não dava
para cortar os juros. Seria melhor
aguardar um pouco mais.
O principal receio do ministro da
Fazenda, comunicado ao presidente,
era reduzir os juros agora e a inflação
dar sinais de alta e o BC ser obrigado
a subir a taxa novamente. Um belo
arranhão na credibilidade do banco.
Auxiliares dizem que os argumentos de Palocci convenceram Lula. Afinal, eles traziam uma promessa: uma
queda mais significativa e constante
a partir de junho ou julho.
Ontem, o que poderia ser feito era
uma queda simbólica. Seria igualmente malhada e não teria efeito
prático sobre a economia real. O que
estava nos planos era colocar um viés
(tendência) de baixa. Isso, sim, as críticas parecem ter abortado.
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