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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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VALDO CRUZ

Desculpas, só desculpas

BRASÍLIA - Pelo raciocínio do vice-presidente José Alencar, faltaram coragem e competência ontem ao Banco Central quando decidiu manter as taxas de juros nas alturas.
Mas, ao subir o tom de suas críticas -as mais contundentes até agora, o que surpreendeu o Planalto-, José Alencar acabou contribuindo para que ele fosse derrotado na sua cruzada contra os juros altos.
Afinal, o que mais se ouvia ontem no governo era que críticas fazem parte do jogo. Mas elas teriam saído do aceitável e tomado um ar de campanha. Soaria como rendição reduzir os juros debaixo de tanto pau.
E não foram as da mídia e de empresários que mais incomodaram. Foram as de gente do próprio governo, como José Alencar em discurso feito em Belo Horizonte.
Irritaram particularmente Antonio Palocci (Fazenda) e Henrique Meirelles. Eles se sentiram convidados a "voltar para casa" caso não tivessem coragem de defender o país.
O fato, porém, é que o fogo cruzado, principalmente o amigo, deu ao Banco Central um motivo a mais para fazer exatamente o que planejava -deixar tudo como está, seguir o caminho conservador. Mais uma semelhança com o seu antecessor.
Palocci já havia dito a Lula, antes mesmo da reunião do Comitê de Política Monetária, que ainda não dava para cortar os juros. Seria melhor aguardar um pouco mais.
O principal receio do ministro da Fazenda, comunicado ao presidente, era reduzir os juros agora e a inflação dar sinais de alta e o BC ser obrigado a subir a taxa novamente. Um belo arranhão na credibilidade do banco.
Auxiliares dizem que os argumentos de Palocci convenceram Lula. Afinal, eles traziam uma promessa: uma queda mais significativa e constante a partir de junho ou julho.
Ontem, o que poderia ser feito era uma queda simbólica. Seria igualmente malhada e não teria efeito prático sobre a economia real. O que estava nos planos era colocar um viés (tendência) de baixa. Isso, sim, as críticas parecem ter abortado.


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