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CARLOS HEITOR CONY
Quando for possível
RIO DE JANEIRO - Impressionante o número de reuniões plenárias do
atual governo. A qualquer pretexto e,
às vezes, sem pretexto nenhum, reúnem-se três dúzias ou mais de ministros e secretários de alto escalão com
o presidente da República, cada qual
tendo direito a falar dez minutos e,
depois de tudo, o próprio presidente
reclamar de que está trabalhando
muito.
Não entendo como juntar de uma
só vez os problemas do Ministério das
Relações Exteriores com os do das Cidades, os dois com os do ministro de
Minas e Energia, de quebra, o ministro da Cultura solicitando maiores
verbas e o da Justiça explicando as
coisas que pelo menos aqui no Rio
não andam boas.
Reuniões assim são justificadas em
emergências ou em agenda de semestre ou de ano. Mas a verdade é que
criam notícia e fotos como se o governo ainda precisasse das duas coisas.
Sabe-se que uma das restrições feitas ao PT é a mania das assembléias,
que podem ser necessárias a um partido, a uma empresa, a uma igreja
dos filhos de Deus. Mas o governo,
embora seja um todo, trabalha setorialmente. Cada pasta tem problemas específicos, que devem ser tratados de forma técnica, realmente executiva.
Fica difícil imaginar a atenção
prestada pelo ministro da Saúde aos
problemas do ministério da Aeronáutica, o interesse do ministro do
Exterior pelos problemas das águas
ou da reforma agrária. Tirante os
responsáveis pela Economia e Planejamento, além dos ministros da Casa,
que funcionam como peças vitais do
Executivo, não se entende a massa de
pessoas que tanto estão se reunindo
para, em dez minutos, propor soluções esperadas há cinco séculos.
O presidente pedir relatórios é o que
não falta. Nem há tempo para que sejam examinados a sério. Nem modo
para serem tomadas quaisquer providências, além da promessa de tudo
ser estudado e resolvido quando for
possível.
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