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CARLOS HEITOR CONY
Assunto sem assunto
RIO DE JANEIRO - Abro o notebook para a crônica diária e descubro que estou sem assunto.
Li os jornais, tiro os noves fora e
não desencavo um tema que valha a
pena, embora não use mais pena,
mas, como disse acima, um notebook de geração jovem.
Deve ser crise passageira que se
prolonga há alguns anos -desde
que comecei a escrever, no século
passado. Especializei-me na falta
de assunto. No fundo, não deixa de
ser um assunto, por acaso muito
bom.
Falar mal de Bush, de Chávez, da
Bolívia, do Lula (falar bem dá no
mesmo, não mudaria Bush, nem
Chávez, nem a Bolívia nem muito
menos o Lula); o cavalo que foi trocado pelo Acre, a onda de violência
que explodiu em São Paulo; espinafrar o Freud, que estaria fazendo
150 anos (nunca dei bola para ele e
não daria agora); alertar sobre o otimismo em relação à Copa do Mundo que vem por aí.
Nada disso me emociona.
Pior mesmo é pensar na sucessão
presidencial e tirar conclusões metafísicas sobre a reeleição de Lula e
a recusa do PMDB em ter candidato
próprio. São assuntos que saturam
o saco de todos, embora nem todos
percebam que estão com os respectivos sacos saturados.
Uso o "saturado" para evitar o
"cheio". Outro dia, falei em "saco
cheio" e fui advertido por uma leitora -eu estava usando imagens
vulgares. Daí que mudei o adjetivo,
preservando o saco, o substantivo é
o que importa.
Peguei um jornal e tentei ler a notícia de uma licitação, na certa catimbada, cheia de códigos legais.
Deve ter mutretas as mais variadas,
que podem dar bolo, segundo o rodar da carruagem e dos instintos investigativos da mídia.
Taí. Poderia ter encontrado um
assunto, mas é tarde: o assunto e o
espaço acabaram.
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