São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2007

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MELCHIADES FILHO

A CPI morreu, viva a CPI

BRASÍLIA - O governo já tinha ocupado os principais postos, escalado os deputados mais fiéis e roteirizado todos os trabalhos. Haveria pouca margem para "notícias" -e, quando estas se insinuassem, o rolo compressor nas votações seria implacável. Mas coube à Polícia Federal o golpe de misericórdia.
A CPI do Apagão Aéreo na Câmara não tem como competir. Não só pelo que já revelou, mas pelo que ainda pode revelar, a Operação Navalha se apoderou dos holofotes.
Para o telespectador, mais vale um corrupto na mão que dois voando. Brasília sabe que, sem a atenção diária das câmeras de TV, as investigações parlamentares murcham. Os interesses corporativos prevalecem. Ninguém estica a corda. Mexer na Infraero? Para quê?
Uma apuração de natureza "técnica" sobre a crise nos aeroportos (e acima deles também) não seria de todo ruim. Os deputados dariam uma importante contribuição ao país se ajudassem a explicar por que os vôos passaram a atrasar tanto, se desvendassem a indústria do overbooking e se esclarecessem, de uma vez por todas, se é seguro ou não entrar em um avião no Brasil.
Mas o mais provável, dadas as circunstâncias políticas e midiáticas, é que nem isso aconteça.
Os que têm o rabo preso, já dá para imaginar, partirão com as garras mais afiadas do que nunca. "Foi um circo! Como previsto, não deu em nada!", gritarão em julho, agosto.
Bobagem. Não importa o desfecho, a história mostrará que esta foi uma CPI muito importante.
Seu sucesso não será o de nomear pilantras nem o de escancarar outro esquema de propina, caixa 2 e desvio de verbas públicas. Seu sucesso foi o de ter assegurado o direito de a minoria ser ouvida no Legislativo, o de ter barrado uma tentativa de fraude à Constituição, o de ter arrancado um definitivo parecer do STF em defesa da democracia.
O inestimável legado desta CPI foi ter garantido que haverá outras.


mfilho@folhasp.com.br

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