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MELCHIADES FILHO
A CPI morreu, viva a CPI
BRASÍLIA - O governo já tinha
ocupado os principais postos, escalado os deputados mais fiéis e roteirizado todos os trabalhos. Haveria
pouca margem para "notícias" -e,
quando estas se insinuassem, o rolo
compressor nas votações seria implacável. Mas coube à Polícia Federal o golpe de misericórdia.
A CPI do Apagão Aéreo na Câmara não tem como competir. Não só
pelo que já revelou, mas pelo que
ainda pode revelar, a Operação Navalha se apoderou dos holofotes.
Para o telespectador, mais vale um
corrupto na mão que dois voando.
Brasília sabe que, sem a atenção
diária das câmeras de TV, as investigações parlamentares murcham.
Os interesses corporativos prevalecem. Ninguém estica a corda. Mexer na Infraero? Para quê?
Uma apuração de natureza "técnica" sobre a crise nos aeroportos (e
acima deles também) não seria de
todo ruim. Os deputados dariam
uma importante contribuição ao
país se ajudassem a explicar por que
os vôos passaram a atrasar tanto, se
desvendassem a indústria do overbooking e se esclarecessem, de uma
vez por todas, se é seguro ou não entrar em um avião no Brasil.
Mas o mais provável, dadas as circunstâncias políticas e midiáticas, é
que nem isso aconteça.
Os que têm o rabo preso, já dá para imaginar, partirão com as garras
mais afiadas do que nunca. "Foi um
circo! Como previsto, não deu em
nada!", gritarão em julho, agosto.
Bobagem. Não importa o desfecho, a história mostrará que esta foi
uma CPI muito importante.
Seu sucesso não será o de nomear
pilantras nem o de escancarar outro esquema de propina, caixa 2 e
desvio de verbas públicas. Seu sucesso foi o de ter assegurado o direito de a minoria ser ouvida no Legislativo, o de ter barrado uma tentativa de fraude à Constituição, o de ter
arrancado um definitivo parecer do
STF em defesa da democracia.
O inestimável legado desta CPI
foi ter garantido que haverá outras.
mfilho@folhasp.com.br
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