São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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JOGO DE EMPURRA

O rompimento da Barragem de Camará, na Paraíba, afetou seis municípios, deixando um saldo de três mortos, 20 desaparecidos e aproximadamente 4.000 desabrigados nas cidades mais prejudicadas -Alagoa Grande e Mulungu. Contudo a gravidade da tragédia não se resume aos números apresentados pela Defesa Civil daquele Estado. O episódio, que por si só já seria deplorável, ganhou dimensão política e demanda esclarecimentos.
Em primeiro lugar, o orçamento da barragem, inicialmente estimado em cerca de R$ 9,6 milhões, foi corrigido para R$ 19,7 milhões em razão de supostos problemas técnicos no projeto inicial. Ao final, acrescidos outros custos, a obra consumiu R$ 24 milhões. Apesar dos reajustes e correções, o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), afirmou que as causas do desastre teriam sido justamente "erro técnico ou má execução da obra".
A responsabilidade, segundo ele, é da administração que o antecedeu -comandada por José Maranhão (PMDB), atualmente senador da República, que prontamente refutou a acusação de que teria realizado a construção às pressas devido à proximidade das eleições.
As empreiteiras envolvidas já se anteciparam a qualquer acusação e publicaram nota em que afirmam responder apenas pela construção, e não pelo projeto da barragem. Para tentar esclarecer o episódio, o governador propôs uma comissão com representantes dos governos estadual e federal e do Ministério Público.
Reações como essas repetem a conhecida dinâmica da transferência de responsabilidades. O mais grave é que esse padrão de comportamento acaba muitas vezes impedindo que se conheçam os responsáveis. Montam-se comissões, anunciam-se inquéritos e tudo se dilui com o passar do tempo. Diante dos prejuízos e da suspeita de negligência, é de esperar que as autoridades competentes conduzam a investigação com o rigor necessário.


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