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JOGO DE EMPURRA
O rompimento da Barragem
de Camará, na Paraíba, afetou
seis municípios, deixando um saldo
de três mortos, 20 desaparecidos e
aproximadamente 4.000 desabrigados nas cidades mais prejudicadas
-Alagoa Grande e Mulungu. Contudo a gravidade da tragédia não se
resume aos números apresentados
pela Defesa Civil daquele Estado. O
episódio, que por si só já seria deplorável, ganhou dimensão política e
demanda esclarecimentos.
Em primeiro lugar, o orçamento da
barragem, inicialmente estimado em
cerca de R$ 9,6 milhões, foi corrigido
para R$ 19,7 milhões em razão de supostos problemas técnicos no projeto inicial. Ao final, acrescidos outros
custos, a obra consumiu R$ 24 milhões. Apesar dos reajustes e correções, o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), afirmou
que as causas do desastre teriam sido
justamente "erro técnico ou má execução da obra".
A responsabilidade, segundo ele, é
da administração que o antecedeu
-comandada por José Maranhão
(PMDB), atualmente senador da República, que prontamente refutou a
acusação de que teria realizado a
construção às pressas devido à proximidade das eleições.
As empreiteiras envolvidas já se anteciparam a qualquer acusação e publicaram nota em que afirmam responder apenas pela construção, e
não pelo projeto da barragem. Para
tentar esclarecer o episódio, o governador propôs uma comissão com representantes dos governos estadual e
federal e do Ministério Público.
Reações como essas repetem a conhecida dinâmica da transferência
de responsabilidades. O mais grave é
que esse padrão de comportamento
acaba muitas vezes impedindo que
se conheçam os responsáveis. Montam-se comissões, anunciam-se inquéritos e tudo se dilui com o passar
do tempo. Diante dos prejuízos e da
suspeita de negligência, é de esperar
que as autoridades competentes conduzam a investigação com o rigor
necessário.
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