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FERNANDO DE BARROS E SILVA
De "Secreta" a Lula
SÃO PAULO - Faltava um mordomo para o filme de terror protagonizado pela família Sarney. Já temos "Secreta". Corruptela de secretário, é o apelido de Amaury de Jesus Machado, espécie de faz-tudo
de Roseana. "É meu afilhado. Fui eu
que o trouxe do Maranhão. Vai em
casa quando preciso, duas ou três
vezes por semana. É motorista noturno e é do Senado. E lá ganha até
bem", explica a governadora.
Os serviços, ao menos em parte,
são privados, mas o salário quem
paga é o Senado -R$ 12 mil, conforme o jornal "O Estado de S. Paulo".
Sem tirar nem por, "Secreta" é
um agregado, o tipo social brasileiro que vive de favor, sob a asa de
uma família endinheirada a quem
presta serviços variados. Neste caso, porém, quem sustenta o leva-e-traz de Nhonhô e Sinhá é o erário. A
Sarneylândia nos conduz assim ao
coração do velho patrimonialismo.
"Secreta" é só a cereja do bolo na
festa do mandonismo e do compadrio patrocinada pelo Senado. Os
Sarney e seus apaniguados valem
bem um estudo sobre a permanência da família patriarcal e do poder
oligárquico no país do petismo.
Sim, é preciso entender os nexos
e cumplicidades entre a velharia
velha dos Sarney e a nova velharia
representada pelo lulismo. O Brasil
virou uma espécie de "democracia
senhorial", segundo a expressão recente do sociólogo Gabriel Cohn. E
Lula se tornou seu maior avalista.
Ao interceder pela figura "incomum" de Sarney e condenar o "denuncismo" da imprensa, Lula faz
apologia do obscurantismo. Usa
sua popularidade para descaracterizar um quadro de óbvio descalabro e favorecer a impunidade. Sua
fala é um tipo de "Bolsa Oligarca".
Lá atrás, quando sacaram a tese
de que o mensalão era uma invenção da mídia, intelectuais petistas
definiram um padrão de conduta:
entre o partido e os princípios, optaram pela defesa do primeiro. Lula
e o neopatrimonialismo sindical
que ele sustenta levaram isso ao paroxismo. Não importa que seja ladrão, desde que seja meu amigo.
-"Secreta", o baralho e as minhas cigarrilhas, por favor...
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