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RUY CASTRO
Secular tranquilidade
RIO DE JANEIRO - Em 1565, depois de cinco anos de guerra feroz,
os portugueses, comandados por
Estácio de Sá e reforçados pelos índios temiminós, tomaram o morro
Cara de Cão, vizinho ao Pão de Açúcar, derrotando os franceses e os tupinambás. E, para não deixar dúvida, fundaram ali a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. A futura
Urca começou bem.
Seguiu-se certo sossego, perturbado apenas pelos ataques de corsários ao Rio no século 18, defendidos pelos canhões da fortaleza de
São João, no mesmo morro. Em
1922, com a urbanização do bairro,
construiu-se um lindo balneário
junto à prainha da Urca, a qual precisou de uma injeção de areia para
comportar as multidinhas que começaram a frequentá-la.
Em 1933, o balneário deu lugar ao
Cassino da Urca, logo um marco turístico nacional. Navios inteiros vinham apostar em suas roletas e ouvir Carmen Miranda. Mas, em 1946,
Dutra fechou os cassinos e, em 1951,
o prédio passou à TV Tupi, cujos
selvagens programas comandados
por Chacrinha, Flavio Cavalcanti e
J. Silvestre nos anos 60 atraíam milhares de pessoas ao seu auditório.
A Tupi faliu em 1980 e entregou
um prédio em ruínas, que, fechado
pelos anos seguintes, tornou-se um
nojento mictório e ninho de traficantes, drogados e vadios. Em
2003, a prefeitura cedeu-o ao IED
(Istituto Europeo di Design), e este
começou um delicado trabalho de
restauração do projeto original, para instalar ali uma escola de artes
visuais, design e moda, como a de
sua filial em São Paulo.
Não será mais possível. Alguns
moradores da Urca insurgiram-se
contra o IED e, com os votos dos vereadores cariocas, embargaram a
obra, já bem avançada. Alegam que
a multidão de estudantes de design,
moda e artes visuais atraída pela escola irá perturbar a secular tranquilidade da Urca.
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