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MELCHIADES FILHO
Portal de notícias
BRASÍLIA - O governo Lula se atrapalhou ao levar à internet relatórios
internos de avaliação de políticas
públicas e cometeu um erro grave
ao tirá-los sumariamente do ar,
preocupado com a repercussão.
A sequência de atropelos lança
dúvidas sobre o novo Portal do Planejamento -ferramenta de gestão
promissora, porque reúne em apenas um espaço as estatísticas, leis e
notícias de 50 temas sociais, econômicos e de infraestrutura.
O ministério, primeiro, foi imprudente quando, na estreia, semana
passada, permitiu a divulgação não
só dos dados brutos mas também
das reflexões críticas habitualmente feitas pelos técnicos da pasta.
Essa transparência total parece
bacana, tão raro é o governo (e sobretudo este governo) admitir erros
e escancarar o que de fato pensa.
Seu efeito, porém, seria o inverso:
um desestímulo à franqueza.
Totalmente expostos às patrulhas, inclusive do próprio governo,
os servidores passariam a medir cada palavra. Dificilmente teriam coragem de escancarar a má gerência
do PAC ou a corrupção em torno do
Luz para Todos, por exemplo.
Então por que o Planejamento
agiu mal ao suspender o site? Justamente porque o primeiro catatau
publicado foi devastador.
O portal demoliu, entre outras
coisas, o plano do biodiesel (economicamente inviável) e iniciativas
federais no campo (endividamento
da agricultura familiar, concentração de renda e fiasco dos assentamentos da reforma agrária).
São avaliações difíceis para Lula
digerir. O presidente bate bumbo
do seu desempenho nessas duas
áreas. A ponto até de, arrogante, ter
anunciado os nomes que cuidarão
delas em um governo Dilma (Miguel Rossetto e Paulo Okamoto).
O Planalto, porém, devia ter sido
menos sanguíneo. Deixasse as críticas no ar e ajustasse os procedimentos mais adiante. Ao mandar
engavetar o portal, só fez confirmar
a vocação à propaganda enganosa
e a aversão a todo tipo de crítica.
melchiades.filho@grupofolha.com.br
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