São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

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OS DILÚVIOS

Enxurradas excepcionais varrem a Europa Central, e um período de chuva de monções acima do normal castiga o sudeste da Ásia. Ontem mesmo, a Província chinesa de Hunan decretou estado de emergência. Várias centenas já morreram neste verão do hemisfério norte. Essa situação torna a pergunta quase obrigatória: o planeta já está sofrendo as consequências do efeito estufa? Apesar de premente, a questão não admite uma resposta singela, que comporte um "sim" ou um "não".
Antes de prosseguir, é preciso lembrar que as consequências de uma inundação não se relacionam apenas com o volume de água que se precipitou, mas também com a forma de ocupação do solo. Muitas vezes, durante períodos relativamente longos de seca, populações avançam sobre várzeas acreditando que a área seja segura. Na verdade, a região só parecia protegida. O desmatamento e a urbanização de zonas ribeirinhas também magnificam cheias.
Voltando ao efeito estufa, já não há dúvida de que a ação do homem está alterando o clima global. Uma das principais razões é a queima de combustíveis fósseis, que libera CO2 na atmosfera, o qual impede que parte significativa da radiação solar que chega à Terra volte para o espaço, o que termina por aquecer o planeta.
O aumento médio das temperaturas, que poderá ser de até 6 C até 2100, tem importante impacto sobre o regime de chuvas. Ainda assim, climatologistas não foram capazes de demonstrar um vínculo entre as inundações deste ano e o efeito estufa. Só que o fato de cientistas não terem encontrado prova de alguma relação não prova que ela não exista.
Diante de incertezas científicas, deve prevalecer o princípio da precaução, segundo o qual devemos atuar para impedir que se concretizem as piores consequências. No caso do efeito estufa, provavelmente perderemos menos se reduzirmos as emissões de CO2 do que se deixarmos de fazê-lo e acabarmos por colocar o clima terrestre em perturbação.


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