São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

Enganei um bobo!

BRASÍLIA - Em carta ao "Painel do Leitor", o respeitado professor e economista Pérsio Arida disse ontem que recebeu "com espanto" a informação de que estaria com um pé na campanha de Ciro Gomes (PPS) e que já teria até sido sondado para a Fazenda.
Ex-presidente do BC e um dos "pais do Real", Pérsio garante que não e que nem tem contato com Ciro há meses. Aliás, jura para os amigos que, ganhe José Serra, Ciro Gomes, Lula, Garotinho, Chico ou João, não quer saber de cargos públicos.
A história lembra muito a campanha presidencial de 1989, quando Fernando Collor espalhou que seus ministros seriam Fernando Henrique Cardoso, Adib Jatene, Hélio Jaguaribe e outros símbolos da elite intelectual. Só se esqueceu de um detalhe: de avisar aos próprios interessados.
Fica evidente que Ciro, como Collor em 89, tem muita empatia com o eleitorado, mas precisa conquistar densidade e credibilidade entre os formadores de opinião e dar um "upgrade" ao conjunto da obra.
Usar o santo nome de Pérsio Arida em vão é um expediente perigoso. Pode disfarçar ou, ao contrário, confirmar a sensação de que o candidato está cercado de apoios avulsos e frágeis -além de conflitantes.
Ciro esculhamba a política neoliberal do governo há anos, mas o que difere o economista José Alexandre Scheinkman de Armínio Fraga (BC)? Talvez o fato de Scheinkman (já confirmado na equipe) ser essencialmente acadêmico e de Armínio já ter posto a mão na massa. Ponto.
Imaginar Pérsio Arida na Fazenda e Scheinkman no Banco Central soa quase tão esquizofrênico como o petista Aloizio Mercadante num cargo e o pefelista Jorge Bornhausen no outro. Até por isso, Pérsio falou em "espanto", o senador Roberto Freire (PPS) se diz em "estado de choque" e todo mundo continua sem entender: qual é mesmo o projeto Ciro? E quem seria, ou será, sua equipe de governo?
Ciro Gomes tem reais chances de vencer a eleição e subir a rampa do Planalto. Por isso precisa já, com urgência, acabar com a sensação de que isso é altamente inquietante.


Texto Anterior: Montevidéu - Clóvis Rossi: Os mercados e a ira
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O carro usado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.