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CARLOS HEITOR CONY
O carro usado
RIO DE JANEIRO - O bom senso e o lugar-comum que devem orientar o
eleitor na hora de enfrentar a urna
aconselham o óbvio: examinar as
propostas e as biografias dos candidatos.
Não estou aqui para ensinar o padre-nosso aos vigários que somos todos nós, sendo que alguns, além de
vigários, em matéria eleitoral são
também vigaristas.
Há desavisados que frequentemente me perguntam como devem votar,
em quem e por quê. Tiro de letra o
desafio, dizendo que todos devemos
votar no melhor. E todos são melhores ao mesmo tempo em que podem
ser piores, de acordo com as circunstâncias.
Nenhum dos candidatos até agora
entusiasmou o eleitorado. Há uma
predisposição, uma intenção de voto
em A ou B ou C, mas, tirante exceções
justificadas por isso ou por aquilo,
constata-se que reina uma incerteza
não destituída de grande dose de
frustração acumulada.
Para agravar a coisa, os candidatos
principais estão apresentando propostas quase iguais. Os programas divulgados parecem escritos pela mesma pessoa, no mesmo estilo e com a
mesma convicção.
O diferencial seria então a biografia de cada um deles. Aí a porca torce
o rabo. É evidente que todos são homens de bem, com fichas limpas nas
delegacias policiais e no Serviço de
Proteção ao Crédito (assim creio eu;
se estiver enganado, peço desculpas).
Mas cada um tem a sua origem e o
seu passado de posições assumidas e
de trabalhos efetivamente prestados.
E, acima de tudo, cada um expressa
os interesses do grupo do qual emergiu como candidato.
Os norte-americanos criaram uma
piada eficiente para avaliar a biografia de qualquer um: "Você compraria
um carro usado de fulano?".
Acho que Lula, Ciro, Serra e Garotinho passariam no teste. Mesmo assim, continuo sem saber em quem devo votar.
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