São Paulo, quinta-feira, 22 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

O carro usado

RIO DE JANEIRO - O bom senso e o lugar-comum que devem orientar o eleitor na hora de enfrentar a urna aconselham o óbvio: examinar as propostas e as biografias dos candidatos.
Não estou aqui para ensinar o padre-nosso aos vigários que somos todos nós, sendo que alguns, além de vigários, em matéria eleitoral são também vigaristas.
Há desavisados que frequentemente me perguntam como devem votar, em quem e por quê. Tiro de letra o desafio, dizendo que todos devemos votar no melhor. E todos são melhores ao mesmo tempo em que podem ser piores, de acordo com as circunstâncias.
Nenhum dos candidatos até agora entusiasmou o eleitorado. Há uma predisposição, uma intenção de voto em A ou B ou C, mas, tirante exceções justificadas por isso ou por aquilo, constata-se que reina uma incerteza não destituída de grande dose de frustração acumulada.
Para agravar a coisa, os candidatos principais estão apresentando propostas quase iguais. Os programas divulgados parecem escritos pela mesma pessoa, no mesmo estilo e com a mesma convicção.
O diferencial seria então a biografia de cada um deles. Aí a porca torce o rabo. É evidente que todos são homens de bem, com fichas limpas nas delegacias policiais e no Serviço de Proteção ao Crédito (assim creio eu; se estiver enganado, peço desculpas).
Mas cada um tem a sua origem e o seu passado de posições assumidas e de trabalhos efetivamente prestados. E, acima de tudo, cada um expressa os interesses do grupo do qual emergiu como candidato.
Os norte-americanos criaram uma piada eficiente para avaliar a biografia de qualquer um: "Você compraria um carro usado de fulano?".
Acho que Lula, Ciro, Serra e Garotinho passariam no teste. Mesmo assim, continuo sem saber em quem devo votar.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Enganei um bobo!
Próximo Texto: Otavio Frias Filho: Retorno do reprimido
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.