São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

O fiel da balança

BRASÍLIA - Apesar da sólida dianteira de Lula, que tem passado incólume pelos ataques tucanos, experts em pesquisa e as cúpulas do PT e do PSDB ainda trabalham com o cenário mais provável de um segundo turno entre Lula e Serra. Mas está na hora de darem bola para Garotinho.
A candidatura Roseana morreu, mas o eleitorado dela continuou perambulando feito alma penada, assombrando Serra/governo e rejeitando Lula/PT. Depois de se encantar com Roseana, aproximou-se de Garotinho e recuou, migrou para Ciro com o mesmo ímpeto que o abandona e se volta mais uma vez para Garotinho. Daí o desempenho dele no Datafolha de hoje.
Sedimentado o eleitorado fluminense e evangélico, o ex-governador do Rio agora herda os votos órfãos de Roseana e desgarrados de Ciro. Com Serra estacionado e Ciro considerado fora do páreo, é ele quem cresce e impede que Lula atinja metade mais um dos votos válidos até 6 de outubro. Pode nem ser o favorecido, mas é quem garante a realização do segundo turno que os petistas tanto rejeitam e os tucanos tanto desejam.
A candidatura Serra está no fio da navalha, e qualquer escorregão pode ser fatal no primeiro turno. Mas depois é depois. O segundo turno tem outra dinâmica, é quase uma nova eleição, um zero a zero.
A tendência é Lula chegar inteiro e preservado, do alto de seus 40%, e Serra, com a imagem chamuscada e cercado pelo ódio dos adversários que deixou pelo caminho. Roseana e Ciro, por exemplo. Mas PSDB e PMDB têm boas máquinas, e o conservadorismo anti-PT não evaporou pura e simplesmente.
Pode-se dizer tudo da atual eleição presidencial, menos que esteja sendo morna e sem graça. Pelo contrário, tem sido quentíssima, cheia de surpresas e emoções do início ao fim.
Lula e Serra vão continuar se estranhando. A prioridade de Lula é evitar o segundo turno. A de Serra é justamente o oposto. Curiosamente, portanto, ambos dependem de Garotinho. Ele é o fiel da balança.


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