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VINICIUS TORRES FREIRE
O bolsa-geladeira e outras bossas
SÃO PAULO - Quando uma bolsa está vazia, o governo Lula inventa outra. O bolsa-farinha, vulgo Fome Zero, morreu de indigência política, social e financeira, afora o ridículo autoritário de exigir nota fiscal para verificar se o indigente comprou farinha, e não havaianas.
Agora, inventaram o bolsa-geladeira e o bolsa-barracão, parentes do
bolsa-montadora, o terço de bilhão
de reais do desconto de imposto que o
governo deu para fábricas de carros e
classe média motorizável.
O bolsa-geladeira é o caraminguá
de crédito dos bancos federais para a
compra de "linha branca". O bolsa-barracão é o desconto no salário das
prestações do crediário. Tudo bem
que só entra no esquema quem quer,
mas o truque lembra os barracões de
fazendeiros em que lavradores dos
cafundós compravam seus víveres,
endividando-se e escravizando-se
para sempre, pois o salário era confiscado pelo dono do barracão e nunca
dava para pagar a dívida.
Decerto o Bolsa-Família, a unificação de programas sociais, pode ser
uma boa medida. Racionaliza a assistência social, reduz a burocracia,
poupa dinheiro público. Mas de bolsa
em bolsa só quem enche o papo é o
ministro da propaganda, Duda Mendonça, e suas marquetagens.
O que são tantas bolsas diante de
um pontinho de juros que bancos, ricos e classe média rica recebem por
emprestar ao governo? Nada de neres. Decerto é fácil fazer populismo
nas costas dos bancos e do BC, a inflação até maio assustava etc. Mas
nem quando viu a desproporção dos
juros diante do tombo da economia e
da inflação o BC se emendou.
Um ponto de juros a menos dá dinheiro para tocar um programa de
saneamento e de empregos para gente pobre e doente de beber água suja e
pisar nela. Pior, a economia deve
crescer em 2004 sem criar muito emprego, menos ainda para os inempregáveis. Pior ainda, essa gente do BC
erra, leva a bolsa e a vida da massa
indigente e não presta contas a ninguém. Quando o governo vai ser independente do BC?
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