São Paulo, terça-feira, 22 de setembro de 2009

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CLÓVIS ROSSI

A saúde, o Estado, a hipocrisia

PITTSBURGH - Numa lojinha do aeroporto de Washington, uma camiseta anuncia: "Amo meu país; tenho medo é do governo". Na estrada que leva do aeroporto de Pittsburgh ao centro, placa em obra avisa quem faz: "Recovery and Investment Act", ou seja, o Plano de Recuperação e Investimento do governo, aquele mesmo que a camiseta do aeroporto de Washington diz temer.
Quer dizer o seguinte: na hora do bem bom, o Estado é o diabo, especialmente nos Estados Unidos. Não conheço país algum em que a rejeição ao intervencionismo estatal seja tão formidável. Aqui, Dilma Rousseff não se elegeria nem xerife de condado se viesse com a história de que "Estado mínimo é tese falida". E não há tupiniquins, os únicos que aplicam a "tese falida", segundo supõe a ministra-candidata.
O problema é que a ministra tem razão. Ou melhor, teria se reformulasse um pouco sua tese, para dizer que "Estado mínimo é hipocrisia".
Os que o defendem adoram quando, na crise, o poder público entra em ação, como entrou, em todos os grandes países do mundo, Brasil inclusive, para evitar um catástrofe econômica e social de proporções bíblicas.
Agora que a situação melhorou ou, no mínimo, parou de piorar, suspeito que a camiseta vista no aeroporto de Washington esteja batendo recordes de venda.
Os que a compram certamente não darão a menor bola para a informação de David Axelrod, conselheiro-sênior de Obama, de que "14 mil americanos estão perdendo seu seguro-saúde todo dia" [porque dependem do plano da empresa; perdem o emprego, perdem o seguro].
Mais: "Se não fizermos nada, metade dos americanos abaixo de 65 anos perderá seu seguro-saúde em algum momento dos próximos 10 anos".
O mercado pode até dar camisa a muita gente, mas saúde, não dá.

crossi@uol.com.br


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