|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
A saúde, o Estado, a hipocrisia
PITTSBURGH - Numa lojinha do
aeroporto de Washington, uma camiseta anuncia: "Amo meu país; tenho medo é do governo".
Na estrada que leva do aeroporto
de Pittsburgh ao centro, placa em
obra avisa quem faz: "Recovery and
Investment Act", ou seja, o Plano de
Recuperação e Investimento do governo, aquele mesmo que a camiseta do aeroporto de Washington diz
temer.
Quer dizer o seguinte: na hora do
bem bom, o Estado é o diabo, especialmente nos Estados Unidos. Não
conheço país algum em que a rejeição ao intervencionismo estatal seja tão formidável.
Aqui, Dilma Rousseff não se elegeria nem xerife de condado se viesse com a história de que "Estado
mínimo é tese falida". E não há tupiniquins, os únicos que aplicam a
"tese falida", segundo supõe a ministra-candidata.
O problema é que a ministra tem
razão. Ou melhor, teria se reformulasse um pouco sua tese, para dizer
que "Estado mínimo é hipocrisia".
Os que o defendem adoram quando, na crise, o poder público entra
em ação, como entrou, em todos os
grandes países do mundo, Brasil inclusive, para evitar um catástrofe
econômica e social de proporções
bíblicas.
Agora que a situação melhorou
ou, no mínimo, parou de piorar,
suspeito que a camiseta vista no aeroporto de Washington esteja batendo recordes de venda.
Os que a compram certamente
não darão a menor bola para a informação de David Axelrod, conselheiro-sênior de Obama, de que "14
mil americanos estão perdendo seu
seguro-saúde todo dia" [porque dependem do plano da empresa; perdem o emprego, perdem o seguro].
Mais: "Se não fizermos nada, metade dos americanos abaixo de 65
anos perderá seu seguro-saúde em
algum momento dos próximos 10
anos".
O mercado pode até dar camisa a
muita gente, mas saúde, não dá.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: A renovação do álcool
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Não precisa exagerar Índice
|