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CARLOS HEITOR CONY
Titanicólogos
RIO DE JANEIRO - No apartamento do editor Roberto Feith, durante um jantar, Marcelo Rubens
Paiva me revela que esteve em Nova Iorque, onde visitou o museu dedicado ao Titanic -aos restos do
Titanic, bem entendido. Sucessivas
expedições, das quais já resultaram
filmes e documentários, foram feitas ao fundo do mar, tantos mil metros abaixo da superfície. Para trazer, entre outras coisas, colherinhas de prata e pires que naufragaram em companhia de mil e tantos
mortos.
Tanto Marcelo como eu nos admiramos de como a humanidade
do século 21 se interessa por um
naufrágio dos inícios do século passado. É um mito, o Titanic, que já
gerou e continua gerando titanicólogos, entre os quais, parece que o
Marcelo se incorporou.
Não sei não, mas não gostaria de
ver os restos de um navio que bateu
num iceberg, mas as sobras do rapto das Sabinas, da noite de São Bartolomeu, da degola de crianças promovida por Herodes e, mais inocentemente, saber onde estão os
restos de Dana de Tefé, que morreu
por aqui mesmo e cujos ossos, apesar de muito procurados, nunca foram encontrados.
Mistérios há. Não apenas no Titanic, mas em toda parte. E também não apenas na base do "quem
matou Lineu" numa novela das oito, ou o obelisco ali no fundo de
Ipanema que ninguém sabe para o
que serve.
Há morbidez em qualquer curiosidade e eu próprio visito Pompéia
frequentemente para ver os estragos do Vesúvio. Um imperador romano que tomou Jerusalém foi
profanar o Santo dos Santos do
Templo, local sagrado por excelência, no qual só entravam os Grandes Sacerdotes em determinados
dias do ano. A intenção dele era
desmitificar a religião daquele povo
que frequentemente se revoltava
contra o jugo de Roma. Ficou decepcionado: ali não havia nada.
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