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São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2003

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ALCINO LEITE NETO

Lições bolivianas: velhas e novas

SÃO PAULO - A crise boliviana deixa algumas lições. A primeira é que as revoltas populares maciças, aquelas mesmas que pareciam enterradas pela história, não estão mortas na América Latina. Multidões desvalidas e aparentemente desagregadas podem ser reunidas por lideranças eficazes e agir revolucionariamente -ou quase. O levante na Bolívia foi o auge de uma progressiva mobilização de associações camponesas.
A revolta teve a característica de ser um movimento étnico-político. Os bolivianos rebeldes não saíram às ruas apenas porque são pobres vivendo num país extremamente desigual mas também porque são de origem indígena, condição que até hoje lhes cria todo o tipo de obstáculos sociais. A globalização tende a ressuscitar arcaísmos, mas também a liberar processos de identificação reprimidos na formação do Estado-nação.
A revolta, afinal, não colocou em xeque a instituição democrática, mas apontou a falência e o descrédito de certa classe política na Bolívia.
O ministério do novo presidente Carlos Mesa, formado por indígenas e "técnicos" sem vínculos com os partidos políticos, expõe ainda mais a crise ao acentuar o desequilíbrio entre o atual Congresso e as condições de governabilidade no país.
Não é apenas a manutenção da democracia que está em jogo na Bolívia mas também a sua renovação, de modo a tornar o sistema político mais inclusivo e menos elitista.
Para os EUA, a rebelião boliviana constitui outra derrota na América Latina. Ela mostra como está equivocada a política externa dos americanos para o continente às vésperas dos primeiros acordos da Alca.
Mais arguta parece ser a diplomacia do presidente Lula -um ídolo político dos rebeldes bolivianos-, que soube esperar até os últimos minutos do ex-presidente Sánchez de Losada para enfim mandar a missão brasileira à Bolívia. Última lição.


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