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ALCINO LEITE NETO
Lições bolivianas: velhas e novas
SÃO PAULO - A crise boliviana deixa
algumas lições. A primeira é que as
revoltas populares maciças, aquelas
mesmas que pareciam enterradas pela história, não estão mortas na
América Latina. Multidões desvalidas e aparentemente desagregadas
podem ser reunidas por lideranças
eficazes e agir revolucionariamente
-ou quase. O levante na Bolívia foi
o auge de uma progressiva mobilização de associações camponesas.
A revolta teve a característica de ser
um movimento étnico-político. Os
bolivianos rebeldes não saíram às
ruas apenas porque são pobres vivendo num país extremamente desigual
mas também porque são de origem
indígena, condição que até hoje lhes
cria todo o tipo de obstáculos sociais.
A globalização tende a ressuscitar arcaísmos, mas também a liberar processos de identificação reprimidos na
formação do Estado-nação.
A revolta, afinal, não colocou em
xeque a instituição democrática, mas
apontou a falência e o descrédito de
certa classe política na Bolívia.
O ministério do novo presidente
Carlos Mesa, formado por indígenas
e "técnicos" sem vínculos com os partidos políticos, expõe ainda mais a
crise ao acentuar o desequilíbrio entre o atual Congresso e as condições
de governabilidade no país.
Não é apenas a manutenção da democracia que está em jogo na Bolívia
mas também a sua renovação, de
modo a tornar o sistema político
mais inclusivo e menos elitista.
Para os EUA, a rebelião boliviana
constitui outra derrota na América
Latina. Ela mostra como está equivocada a política externa dos americanos para o continente às vésperas dos
primeiros acordos da Alca.
Mais arguta parece ser a diplomacia do presidente Lula -um ídolo
político dos rebeldes bolivianos-,
que soube esperar até os últimos minutos do ex-presidente Sánchez de
Losada para enfim mandar a missão
brasileira à Bolívia. Última lição.
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