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São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A União e a fome

RIO DE JANEIRO - Há alguma coisa de errado nas relações da União com os Estados e os municípios. Embora nada entenda do assunto, sempre achei que a federação, como qualquer tipo de federação, se situasse no topo da pirâmide administrativa do país, sobretudo no setor mais importante, que são as cotas nas receitas, e em inúmeros outros quesitos a que as partes (Estados e municípios) têm direito a participar do grande bolo.
Ledo e ivo engano. O que se vê diariamente é a constante e interminável fila de governadores indo e vindo de Brasília, tomando chá de cadeira por horas, a fim de descolar a liberação de uma verba ou de expor um caso emergencial.
A centralização financeira é um fato, e quem dispõe da chave do cofre, quem fica sentado em cima do dinheiro, transforma-se realmente num soba, num deus da vida e da morte, dono do Sol e das estrelas.
A prática tornou-se tão truculenta que sobra aos governadores, em geral, a administração dos problemas inadministráveis, como a segurança pública, o sistema carcerário, a saúde, a educação, o abastecimento de água etc. Num regime federativo decente, a União deveria expressar as necessidades e operar as potencialidades da nação como um todo, seja na guerra, seja na paz, sem discriminar unidades politicamente não afinadas com os governantes federais.
Prevalece, nos hábitos nacionais, o assistencialismo da União diante de problemas específicos e pontuais, como enchentes, desmoronamentos, desastres ambientais de grandes proporções, como se o governo federal fosse a madre Teresa de Calcutá dando um prato de sopa aos desabrigados.
Por falar em sopa, o Fome Zero, que foi lançado pelos marqueteiros de Lula nos primeiros dias de seu governo, além de um equívoco, foi um indício de que predominará nos próximos anos a mesma mentalidade demagógica e irresponsável que todos esperávamos que o PT fosse banir para sempre da vida nacional.


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