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CARLOS HEITOR CONY
A União e a fome
RIO DE JANEIRO - Há alguma coisa de errado nas relações da União com
os Estados e os municípios. Embora
nada entenda do assunto, sempre
achei que a federação, como qualquer tipo de federação, se situasse no
topo da pirâmide administrativa do
país, sobretudo no setor mais importante, que são as cotas nas receitas, e
em inúmeros outros quesitos a que as
partes (Estados e municípios) têm direito a participar do grande bolo.
Ledo e ivo engano. O que se vê diariamente é a constante e interminável fila de governadores indo e vindo
de Brasília, tomando chá de cadeira
por horas, a fim de descolar a liberação de uma verba ou de expor um caso emergencial.
A centralização financeira é um fato, e quem dispõe da chave do cofre,
quem fica sentado em cima do dinheiro, transforma-se realmente
num soba, num deus da vida e da
morte, dono do Sol e das estrelas.
A prática tornou-se tão truculenta
que sobra aos governadores, em geral, a administração dos problemas
inadministráveis, como a segurança
pública, o sistema carcerário, a saúde, a educação, o abastecimento de
água etc. Num regime federativo decente, a União deveria expressar as
necessidades e operar as potencialidades da nação como um todo, seja
na guerra, seja na paz, sem discriminar unidades politicamente não afinadas com os governantes federais.
Prevalece, nos hábitos nacionais, o
assistencialismo da União diante de
problemas específicos e pontuais, como enchentes, desmoronamentos,
desastres ambientais de grandes proporções, como se o governo federal
fosse a madre Teresa de Calcutá dando um prato de sopa aos desabrigados.
Por falar em sopa, o Fome Zero, que
foi lançado pelos marqueteiros de
Lula nos primeiros dias de seu governo, além de um equívoco, foi um indício de que predominará nos próximos anos a mesma mentalidade demagógica e irresponsável que todos
esperávamos que o PT fosse banir para sempre da vida nacional.
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